A selecção cumpriu com as previsões e venceu a Islândia, deixando o primeiro lugar do grupo à distância de um empate na Dinamarca. Fê-lo até com momentos de brilho, projectado em toques de calcanhar, combinações e triangulações que no fundo são o que de mais belo o futebol pode dar.

Tudo certo, tudo lógico, portanto. Nesta altura convém recuar um bocadinho no tempo, só um bocadinho, leitor, para recordar que se tratou do regresso de Paulo Bento ao Dragão. Faz este sábado, dia 8 de Outubro, precisamente um ano que o seleccionador se estreou pela equipa nacional.

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Estreou-se com uma vitória sobre a Dinamarca que pode tornar-se decisiva no apuramento. Fê-lo também com um projecto mais nobre de futebol, escreveu o Maisfutebol, num jogo em que Portugal não foi genial, é verdade, mas foi competente. Um ano depois é bom lembrar estas palavras.

Portugal tem hoje um onze definido, onde se destaca um esquema táctico óbvio e invariável, guarda as surpresas da altura (João Pereira e Carlos Martins, por exemplo, com Raul Meireles na posição seis) e está muito mais solto. Desenvolveu o tal projecto mais nobre de futebol, e desenvolveu-se com ele.

Por isso inspira confiança. Há pouco mais de um ano, por exemplo, comprometeu dois pontos em casa com o Chipre, num empate com sabor a pesadelo. Esta noite, numa espécie de viagem ao passado, permitiu a aproximação do adversário, mas não permitiu mais que um susto. Sentia-se a vitória.

A figura Eliseu, na noite em que Nani foi Ronaldo

Com naturalidade fez mais dois golos que sossegaram as bancadas. O jogo não foi perfeito, é certo, Portugal entrou mal e obrigou Rui Patrício a tornar-se uma das figuras com uma defesa fantástica nos minutos iniciais. Mas marcou nos momentos certos, tranquilizou-se e tranquilizou toda a gente.

A partir daí viu-se a melhor face: a tal vertente de futebol tricotado, com toques e desmarcações, passes de calcanhar e velocidade nas alas. A primeira parte terá sido mesmo do melhor que esta equipa já fez nos tempos recentes. Ronaldo centrava as atenções, Nani aproveitava para desequilibrar.

O futebol era o do costume, assente nos princípios de costume. Como se escreveu há um ano, Paulo Bento não aspira a ser genial: quer ser apenas competente. Por isso gosta de simplificar. A selecção simplificou processos com ele, soltou-se, aproximou sectores e tornou-se numa equipa mais dinâmica.

Análise: acabou-se a dependência de Ronaldo

Ronaldo já não é o centro da acção, pode até passar vários minutos longe dela: o centro está agora nos três médios, na capacidade de se desmarcarem, de apoiarem os avançados, de surpreender o adversário com trocas posicionais e capacidade de surgir nos espaços. Tudo simples, tudo eficaz.

É verdade que nem tudo foi perfeito, repete-se, e sofrer três golos em casa da Islândia é assustador. Em duas bolas altas, aliás, o adversário apontou dois golos e reduziu a desvantagem para um. Mais tarde ainda fez o terceiro, numa altura em que Portugal já tinha aumentado a conta para cinco.

Mas é bom recordar que depois do segundo golo a Islândia foi incapaz de criar mais uma ocasião de golo. Portugal dominava, tinha a bola e carregava. É verdade que houve assobios das bancadas, mas foram apenas o reflexo de um público que se tornou mais exigente com o crescimento da selecção.

No fundo querem espectáculo. O que é, também ele, um óptimo indicador: esta selecção habitua-os ao melhor. Para já, porém, continua só a ser competente: tem quase garantido o play-off e veste-se de favorita para disputar o apuramento na Dinamarca. Há um ano seria capaz de imaginar que fosse possível?

Paulo Bento, já agora, tornou-se o primeiro seleccionador a ganhar os primeiros cinco jogos oficiais. Lapidar.