Está em curso mais um Estágio do Jogador organizado pelo sindicato (SJPF), uma espécie de equipa para jogadores que não têm atualmente clube e que pretendem continuar a jogar. É ali que futebolistas desempregados têm a oportunidade de recuperar ou manter a forma física e de se mostrar a empresários e olheiros.
Por lá já passou, por exemplo, Miguel Garcia que esteve na caminhada quase vitoriosa do Sporting na Taça UEFA em 2004/2005. Quem não se lembra daquele golo de cabeça, aos 120 minutos, na Holanda, em casa do AZ Alkmaar e que garantiu aos leões a final da prova no próprio estádio?
Miguel Garcia foi herói, mas em pouco tempo tudo mudou: em 2007 o defesa lesionou-se, foi operado ao tendão rotuliano e a transferência de Alvalade para Itália não correu bem. O ex-internacional de sub-21 não fez nenhum jogo pelo Reggina e esteve dois anos sem jogar.
Depois disso, no verão de 2009, participou no estágio do sindicato e foi aí que o Olhanense percebeu que Miguel Garcia tinha mais para dar: contratou-o e logo em janeiro transferiu-o para o Sp. Braga onde teve a oportunidade de jogar outra vez nas competições europeias e chegar a mais uma final da Liga Europa.
Neca decidiu participar no Estágio do Jogador pelo segundo ano consecutivo por várias razões: «Tal como aconteceu no ano passado, terminei o contrato e em vez de treinar sozinho vim para aqui. É um excelente estágio não só para ganhar forma física, como puder jogar com outras equipas e fazer contratos.»
O ex-internacional português e símbolo do Belenenses sabe que é difícil regressar à Liga, «por que é normal os clubes terem alguma dificuldade em apostar em jogadores ditos velhos», mas diz que se sente em forma para continuar a jogar.
«Enquanto chegar ao final da época e me sentir em condições de fazer o próximo ano é isso que vou fazer. Sinto-me bem mental e fisicamente e decidi que gostava de fazer mais um ano, por isso estou disponível para qualquer projeto», acrescentou.
O mesmo acontece com João Coimbra, Campeão Europeu de sub-17, em 2003, que chegou a jogar com o Benfica na Liga Europa e esteve nos convocados para um jogo da Liga dos Campeões. O médio teve um percurso de destaque, admite que não foi mais além «por culpa própria», mas não se preocupa com o passado.
«Agora preocupo-me em arranjar um novo desafio, o passado já não conta», disse para acrescentar que tão pouco se deve ter vergonha em assumir que não se tem clube e se precise de recorrer a este estágio: «Eu não tenho, mas acredito que haja quem tenha. Já é o segundo ano que estou aqui. É uma excelente oportunidade, por que não aproveitar?»
Por isso, neste momento, o médio que está sem jogar desde janeiro, quando saiu do Kerala Blasters da Índia, só pensa em «manter a forma» e em «mostrar-se», para que um novo desafio apareça.
Já Manu, que não joga há um ano, depois de deixar o Ermir Aradippou do Chipre, estreou-se no Estágio do Sindicato com o objetivo de voltar à forma e estar preparado fisicamente para quando a oportunidade aparecer.
O ex-jogador do Benfica tem 33 anos, mas sente-se ainda capaz de jogar e o desemprego não lhe tem retirado o sonho: «Tem de se encarar a situação com naturalidade. Há que acreditar sempre, não baixar os braços e continuar a treinar para, se acontecer, estar preparado e mostrar valor.»
Por sua vez, Boa Morte está neste desafio por outras razões, mas tem noção daquilo que o estágio representa para os jogadores por isso, dizendo que estar desempregado «não é o fim do mundo», tenta ajudar com a sua experiência.
«Não é que eu saiba mais ou menos do que eles, mas de certeza que tenho mais experiência do que eles. Passo alguns métodos conhecedores e tento ajudá-los. Tento puxar por eles e ser exigente», disse.
A experiência acaba por ser diferente também para o treinador, que no estágio acaba por perder jogadores em vez de ter cada vez mais para trabalhar, mas neste caso esse facto «é positivo» e «o objetivo»: despachar jogadores.
Tem sido assim desde 2002, quando o estágio arrancou. Uns anos com edições a Norte e a Sul, mas sempre com o mesmo sucesso: uma taxa de empregabilidade, que é quase sempre acima dos 50 por cento e que em 2004 e 2006 foi de 90.
[Fotografias cedidas pelo SJPF]