Há noites, há palcos e há momentos que elevam os humanos à condição de deuses. Concedem-lhes a eterninade e estes passam a ter lugar cativo onde o sol mais brilha. E Diogo Costa, ao defender os três penáltis da Eslovénia, conseguiu esse estatuto: está entre os maiores.

Depois de Ricardo contra a Inglaterra, já podemos contar que vimos a noite memorável de Diogo Costa em Frankfurt. Façam-lhe uma estátua! 

Portugal pareceu fugir ao seu próprio destino, mas lá acabou por vencer a Eslovénia nos penáltis depois de um nulo ao fim de 120 minutos. Uma geração que se diz candidata ao trono do futebol europeu de seleções tem de fazer melhor. Não é mais, é melhor. A melhor notícia desta noite é que segue viva no torneio.

O regresso ao 4x3x3 trouxe ligeiras melhorias contra uma Eslovénia que não é uma seleção de grande nível – como se pintou, aliás. Os eslovenos deram, como seria de esperar, a iniciativa à equipa nacional que se aceitou a posse de bola. A Seleção procurou atacar embora com cautela e com atenção especial às jogadas de apoio frontal das quais Sesko e Sporar vivem. Por isso, Martínez colocou Cancelo por dentro, com liberdade, e Nuno Mendes fechou mais perto dos centrais, entregando o corredor a Leão.

O avançado do Milan teve liberdade (e espaço) para criar, arrancar, ganhar faltas e ‘arrancar’ cartões amarelos. Foi dos seus pés que saiu a melhor ocasião de Portugal na primeira parte com Palhinha a rematar ao poste.

A Seleção controlou, mas nunca asfixiou o oponente. Ainda assim teve, a partir do corredor direito, uma boa situação de golo com o cruzamento de Cancelo ao qual Ronaldo e Bruno não chegaram por centímetros. Por sua vez, Rúben Dias também já tinha rematado à malha lateral em boa posição.
 
Por sua vez, a Eslovénia, em versão Kick And Rush, assustou em duas ocasiões. Se na primeira Diogo Costa travou remate de Sesko, à segunda valeu Nuno Mendes a evitar o remate de Sporar.

Portugal surgiu melhor no segundo tempo. A bola circulou mais rápido, as combinações fluíram e o futebol praticado foi ligeiramente superior à primeira metade. Bernardo ameaçou desbloquear a partida logo a abrir, mas errou o alvo.

Permita-me, caro leitor, dedicar um parágrafo a João Cancelo. O lateral-direito deu um recital de bom futebol, criou (parecia um medio) as principais jogadas de perigo da Seleção na segunda parte e fez o que quis de quem lhe apareceu pela frente. Faltou, no entanto, alguém que finalizasse.

Cristiano Ronaldo esteve longe de ter uma noite inspirada - continua à procura do primeiro golo no Europeu. O capitão revelou-se algo perdulário apesar de ninguém ser capaz de lhe apontar falta de esforço ou empenho.

Roberto Martínez não ajudou a equipa

Pouco depois da hora de jogo, Portugal ficou pior na partida. Roberto Martínez decidiu retirar do jogo Vitinha (estava a ser dos melhores) e recuar Bruno para junto de Palhinha. Jota entrou para jogar perto de Ronaldo. Resultado? O jogo partiu-se, a Seleção perdeu o controlo. Ficou pior, no fundo.

A Eslovénia agarrou-se ao nulo e espreitou ser feliz. Usou as armas que tem e esteve pertíssimo de chegar à vantagem: Sesko bateu Pepe em velocidade, mas rematou torto perante Diogo Costa.

O selecionador nacional tentou emendar a mão, quiçá, mas as trocas... não resultaram. Francisco Conceição entrou para o corredor esquerdo por troca com Leão. Sem surpresa, a entrada do extremo, fora da posição natural, não teve o efeito que o espanhol, provavelmente, imaginaria.

Ainda assim, Cristiano Ronaldo, lançado por Jota, teve nos pés a possibilidade de ser herói, mas esbarrou em Oblak. O guarda-redes do Atlético de Madrid viria a deixar o português frustrado e em lágrimas quando ao cair da primeira parte do prolongamento, defendeu um penálti. O avançado não conteve as lágrimas assim que soou o apito para a troca de campo no período suplementar.

Portugal tentou, tentou, mas Oblak foi um gigante (mais pequeno que Diogo Costa, ainda assim). O guardião português foi preponderante no prolongamento ao evitar que uma perda de bola de Pepe resultasse no golo de Sesko - abençoado pé esquerdo!

Nos penáltis, Diogo Costa decidiu e travou os remates de Ilicic, Balkovec e Verbic. Houve espaço para a redenção de Ronaldo (que pediu desculpa após marcar) e para os penáltis certeiros de Bruno Fernandes e Bernardo, sendo que este último confirmou o duelo com a França, na próxima sexta-feira, em Hamburgo