Olha em redor. Respira fundo. E pontapé para a frente.
Podia ser um lema de vida. Mas é a forma como resumimos aquilo que é o footgolf. Vá, podemos dizer mais: footgolf é desporto, convívio e lazer no meio da natureza.
Atenção: a modalidade é muito mais do que isso. Mas também é tudo aquilo. Mais paisagens incríveis a perder de vista, estratégia, elegância e concentração. Muita concentração.
Essas são as primeiras sensações do Maisfutebol após assistir a uma prova – a primeira em Portugal pós-confinamento – que juntou quase 140 pessoas na Penha Longa, em Sintra.
Esta também pode ser a forma de resumir como Ricardo Esteves, antigo futebolista de Benfica, Sp. Braga e Marítimo, por exemplo, se envolveu na modalidade, após um convite do também ex-futebolista Carlos Xavier.
Tudo aconteceu em 2014 e a estreia foi logo num torneio internacional de três dias na Quinta da Marinha.
«Participaram mais de 200 atletas de todo o mundo e o ambiente fascinou-me. Fez-me recordar aquilo que eu tinha no futebol», começa por dizer o antigo lateral-direito, que tinha colocado ponto final na carreira no ano anterior, na China.
Era preciso olhar em redor.
Na altura, o cenário o footgolf em Portugal não era a coisa mais animadora do mundo. Em 2015, havia 16 pessoas a jogar regularmente. Mas havia vontade de mudar isso.
Pontapé para a frente.
Em 2016 foi criada uma associação que tinha Ricardo Esteves a presidente e em 2019, depois de muitos esforços, tornou-se federação. Hoje, são mais de 200 os atletas federados. E a perspetiva é que o número continue a crescer.
Os sinais são positivos. No campeonato do Mundo de 2018, o primeiro em que Portugal participou, entre 37 seleções, a equipa lusa alcançou o 11.º lugar, que valeu também o apuramento para o Europeu.
«O footgolf é para todos: dos seis aos 80 anos»
Falamos com Ricardo Esteves antes de o antigo futebolista iniciar o trajeto pelos 18 buracos do circuito da Penha Longa. Logo a seguir vemo-lo a bater o pontapé de saída. E reconhecemos ali o estilo de quem andou uma vida fazer cruzamentos para golo.
A provocação é inevitável: não se trata de concorrência desleal?
«Posso ter vantagem pela forma de bater a bola que é semelhante, mas são poucos aqueles que jogam footgolf e que foram futebolistas profissionais. A maioria dos jogadores não vem do futebol», defende-se, sorridente.
«É verdade que uma das minhas principais características era a precisão dos cruzamentos e de passe. Mas no footgolf a forma de bater a bola não é a única coisa que conta. Há toda a estratégia necessária, jogar com as lombas do campo, com o vento. Há muitas variantes que contam», explica.
«É uma modalidade que todos podem praticar: dos seis aos 80 anos», assegura, resumindo: «Dar uns pontapés na bola, toda a gente dá».
Fifó: um fenómeno em tudo o que meta bola no pé
Uma volta pelo circuito confirma aquilo que nos diz Ricardo Esteves.
De facto, vemos homens e mulheres a praticar. Novos e mais velhos. Mais e menos atléticos.
Confirmamos que toda a gente pode jogar footgolf. Mas há fenómenos e fenómenos.
E Ana Sofia Gonçalves é um fenómeno seja lá qual for a bola que tenha nos pés. Afinal, falamos da atleta que, desde o 16 anos, detém o recorde de mais jovem de sempre a estrear-se por uma seleção portuguesa em qualquer modalidade organizada pela Federação Portuguesa de Futebol.
Fifó, a própria. Encontramos a futsalista do Benfica na Penha Longa equipada a rigor.
Sim, porque a indumentária é uma das especificidades do footgolf. Há regras a respeitar: sapatilhas, meias altas, calção clássico – saia-calção ou saia para as mulheres - e polo.
Mas não foi apenas o dress code que Fifó respeitou. Foi também o historial. O de quem, em 2018, aos 18 anos, foi eleita a terceira melhor jogadora de futsal do mundo.
É que no primeiro contacto com o footgolf, Fifó venceu a categoria feminina da prova na Penha Longa. «Não foi mau», resumiu ela no final.
«Para quem nunca tinha jogado, não foi mau. Valeu pela experiência. Estou habituada a um desporto coletivo e este é diferente», declarou ao Maisfutebol.
Convidada Marco Policarpo, amigo e um dos jogadores do circuito nacional, a atleta do Benfica diz ter sido facilmente convencida quando o amigo lhe explicou o funcionamento do jogo.
«Desde logo, chamou-me a atenção por ser jogado com os pés. Porque isso é algo que faz parte do meu dia-a-dia. E decidi vir experimentar, também por ser um desporto num contexto ser diferente», continuou.
Mas será que foi assim tão fácil para Fifó como o resultado parece mostrar? Ela garante que não.
«A maior dificuldade é manter a concentração, avaliar as distâncias, tendo em conta o vento e os desníveis do campo. Conjugar tudo isso e manter o foco no momento da pancada é o mais difícil no jogo», explica.
Ainda assim, para primeira imagem, não fica nada mal, para usar a expressão da própria. Mas será para repetir? «Quem sabe? Foi giro e gostei da experiência, apesar de não ser bem o meu desporto», remata.
«Sensação de liberdade» como nenhuma outra modalidade
Se um dia deixar o futsal e quiser dedicar-se ao footgolf, Fifó não será a primeira a fazê-lo.
Afinal, esse foi o percurso feito também por Daniela Branco. Aliás, foi o fim do percurso no futsal – e a vontade de continuar a praticar desporto - a lançá-la para esta vertente.
«O footgolf surgiu pela primeira vez em conversa com uma amiga. Eu sempre pratiquei desporto e na altura era guarda-redes de futsal, mas ia deixar de jogar. E comentei: ‘o que vou fazer agora?’. E ela falou-me de um desporto que o namorado fazia. ‘eu sei que ele chuta uma bola para acertar num buraco’.
Pontapé para a frente e acertar num buraco.
Essa informação foi suficiente para, após uma pesquisa rápida encontrar a resposta: footgolf. «Disse logo que tinha de experimentar.»
E lá foi ela, em outubro de 2017. Curiosamente, no campo da Penha Longa, onde a encontramos.
No ano seguinte, tornou-se federada e logo no primeiro ano sagrou-se campeã nacional feminina e qualificou-se para representar Portugal no Mundial desse ano, em Marrocos. O ponto alto logo a abrir.
«Ter representado Portugal no Mundial foi um prazer enorme. O melhor momento que vivi. Ainda para mais, sendo a primeira mulher a fazê-lo com a camisola de Portugal», confidencia a jogadora do Sporting Clube Marinhense.
Dois anos volvidos, o balanço da ligação à modalidade não podia ser mais positivo. E isso percebe-se na forma apaixonada como fala do footgolf.
«O melhor de tudo é o convívio entre todos. Mas é tudo tão bom», aponta, enaltecendo a possibilidade de andar no meio da natureza com verde a perder de vista.
«Só olhar para o terreno de jogo, com aquelas paisagens, é incrível. Jogas no meio da natureza, o que dá uma sensação de liberdade inacreditável. Eu já joguei futebol, andebol, futsal, ténis e fiz patinagem. Mas nada me transmite uma sensação tão agradável como o footgolf. É mesmo apaixonante», acrescenta.
E perante tal descrição, confesse lá: não dá vontade de ir experimentar?
O pontapé de saída já percebemos como funciona. Olhar em redor. Respirar fundo. E pontapé para a frente.