Se é verdade que a história nunca se repete, há pelo menos coincidências inquietantes. Deco e Pepe, por exemplo. Numa altura em que se fala da possível naturalização do segundo para poder jogar na selecção portuguesa como faz o primeiro, é engraçado verificar como o trajecto dos dois se cruza em tantos lugares. Ambos nasceram no Brasil, é um facto, mas ambos conquistaram a fama em Portugal. Onde chegaram muito jovens, aliás. Deco veio com 19 anos acabados de fazer, Pepe tinha apenas 17 anos.
Ambos se tornaram jogadores consagrados no F.C. Porto. Curioso também é que os azuis e brancos não fizeram mais do que aproveitar as distracções dos rivais lisboetas. O Benfica não aproveitou Deco, que contratou ao Corinthians Alagoano, o Sporting não quis Pepe, que teve à experiência com Boloni. Depois do F.C. Porto, sim, o sonho da Selecção Nacional. Que em ambos os casos se colocou durante a sexta época no futebol luso. Numa altura em que até o sotaque já é tão português quanto brasileiro.
Lançados pelo mesmo treinador: «Cheguei a escrever que ambos iriam ser jogadores de selecção, só nunca esperei que fosse da selecção portuguesa»
O trajecto de ambos começou a cruzar os mesmos sítios muito antes disso, porém. No Brasil. Tanto que saíram para Portugal do mesmo clube, do Corinthians Alagoano, e depois de terem sido lançados pelo mesmo treinador. O Maisfutebol falou com Bira, o homem que os tornou seniores. «Lancei o Deco em 97, com 18 anos, depois de o contratar aos juniores do Corinthians, de S. Paulo, e lancei o Pepe em 2000, com 16 anos, depois de o contratar aos juvenis do CRB», conta o treinador. «Eram jogadores com uma personalidade muito parecida, levavam muito a sério o futebol. Estavam sempre muito atentos às críticas para poderem progredir. Notava-se que iam longe. Por isso é que só fizeram uma época como seniores do clube e foram logo para Portugal».
Bira chegou a garantir por escrito que aqueles dois não enganavam. «Na altura o João Feijó, que era o presidente do Corinthians Alagoano, exigia que eu fizesse relatórios anuais de todos os jogadores. Tanto no relatório do Deco como no relatório do Pepe escrevi que mais tarde ou mais cedo iam ser jogadores de selecção. Só nunca esperei que fosse da selecção portuguesa», revela. «Sempre esperei que tivessem uma oportunidade no escrete. Infelizmente o Deco só se tornou um jogador consagrado no Brasil depois de começar a jogar pela selecção portuguesa e com o Pepe parece que se vai passar o mesmo». O que Bira lamenta. «Já na altura se notava que era uma questão de tempo até se tornarem craques. Eram ambos jogadores muito vibrantes».