Em plena Mata Real, a passagem de testemunho. De ex-equipa sensação, para nova equipa sensação. Em oito jogos, o Rio Ave soma apenas uma derrota, em Braga, e, sobretudo, mostra muito bom futebol. Agora até deu para golear. Triunfo por 1-6, o resultado mais expressivo do campeonato, que já vale os mesmos 33 pontos do rival na tabela.

O cartaz era apelativo. Duas das equipas que melhor futebol têm praticado neste campeonato, frente a frente, quando, uma e outra, têm os objectivos praticamente assegurados. Pedia-se, por isso, bom futebol e um bom espectáculo. Esteticamente, o encontro desiludiu um pouco no primeiro tempo, mas não se pode pôr em causa a entrega e a vontade de dois colectivos que se anularam a ponto de descaracterizar o futebol que costumam mostrar. A enorme segunda parte do Rio Ave viria a corrigir esta entrada.

A jogar em casa, o Paços tentou mandar no jogo. Usando e abusando do flanco esquerdo, onde Pizzi e Maykon combinam na perfeição, os «castores» colocaram o rival em sentido. O objectivo era pôr fim a uma série negra de quatro jogos sem vencer. O golo de Rondon, aos 17 minutos, coroava a melhor entrada dos homens de Rui Vitória, embora a equipa ainda não tivesse produzido nada que justificasse a vantagem.

O golo em si, no entanto, merece descrição pormenorizada. Bom lance do Paços de Ferreira, num «cheirinho» daquilo que esta equipa já mostrou nos relvados deste país. A inteligência de Pizzi a abrir para Maykon na esquerda é de sublinhar. O remate do lateral brasileiro saiu traiçoeiro e Paulo Santos só defendeu para a frente. Rondon estava lá para encostar.

Do céu ao inferno em seis passos

Apesar do domínio pacense e das tentativas de contra-golpe do Rio Ave, o primeiro tempo não deixou muito mais para contar. Até porque a segunda parte, essa sim, seria um épico filme para o Rio Ave e uma película de terror para a equipa da casa.

Um claro penalty de Bura sobre Yazalde rasgou um jogo, até então, profundamente equilibrado. João Tomás faria o primeiro de dois golos no jogo, já que, nem 15 minutos depois, após excelente jogada e passe de Vítor Gomes, voltaria a marcar. Pressentia-se que o Paços de Ferreira tinha acusado o golpe do empate em demasia.

A defesa mostrou toda a sua intranquilidade, sobretudo por Bura, que foi acumulando más decisões umas atrás das outras. O Rio Ave, a atravessar o melhor momento da época, aproveitou para fazer o escândalo.

Braga, num livre que poderia ter mandado Ozéia mais cedo para o balneário, fez o terceiro. Entrou depois em acção Saulo. Dois golos para o brasileiro que já leva três em dois jogos. O primeiro, quarto do jogo, é soberbo. Tiro indefensável para Cássio. Candidato a golo da jornada. Pouco depois marcou de cabeça, completando a mão cheia. Ainda havia espaço para Tarantini fazer o sexto golo, fazendo a goleada do campeonato.

Fica para a história um dos jogos mais estranhos da prova, em que depois de uma primeira parte sofrível, o Rio Ave arrancou imparável para uma goleada que até poderia ter sido maior. João Tomás perdeu duas oportunidades e Cássio negou a Júlio Alves aquele que seria o golo do campeonato.

Até ao final da época é bom que se coloque os olhos neste Rio Ave. A equipa de Carlos Brito, num estilo em tudo similar ao do Paços de Ferreira, vai coleccionando pontos, adeptos e medalhas de mérito. Ainda faltam mais quatro jogos. A Europa estará longe de mais, mas a manutenção é uma certeza absoluta.