E, ainda assim, não é tão respeitado como Suazo, Lisandro ou Liedson. Nem por sombras. Percebe-se a diferença, mas é por estas e por outras que esse mesmo goleador do Nacional da Madeira passou despercebido por Portugal. Andou pelo Norte a fazer jogos-treino pela equipa de reservas do Cruzeiro de Belo Horizonte, marcou cinco golos em duas partidas (Nacional e V. Guimarães), mas nem assim conseguiu convencer muita gente.
Desconfio que, apesar das evidências que nos entram pelos olhos, continuam a ser muitos os descrentes. Porque não era uma estrela no Brasil, porque jogava no Ipatinga antes de dar o salto para a Europa. Porque joga no Nacional, onde reside um presidente com instinto para o negócio e um treinador com faro para os talentos. Tal como aconteceu no último Verão, em Portugal ninguém se mexe, pelo que o destino óbvio será um qualquer clube no estrangeiro.
Nenê é um jogador que merece destaque, não só pelos golos, mas pelo que faz jogar. É o símbolo do melhor ataque do campeonato, com uma boa mão cheia de momentos de grande qualidade, com execuções que chegam a ser brilhantes, com direito a presença nos resumos da época.
Roam-se de inveja os que não se aperceberam do talento que esteve disponível a todos, porque jogadores assim vão continuar a passar despercebidos. Nem que seja para comprovar a incompetência de uma classe dirigente que polui o futebol nacional e teima em ser corporativista no pior dos sentidos, aniquilando todas as esperanças de evolução.
Antevê-se, portanto, mais um negócio rentável para Rui Alves, que mais uma vez conseguiu ser mais esperto do que Carlos Pereira, agradecendo o desinteresse do Marítimo pelo craque oferecido e que agora ajuda o Nacional a sonhar com a Europa e os milhões que servirão para continuar a procurar os Nenês deste mundo.
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, editor do PortugalDiário, que escreve aqui todas as semanas
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