Nos genes traz a marca do pai. Nota-se aliás na forma acessível como se relaciona, no jeito como fala, nas palavras que solta de uma forma descomprometida. Parece um rapaz sem freio. Puro engano. Fábio Futre sabe exactamente onde ficam os limites. Por isso não aceita que o comparem ao pai. Por muito que haja gente a fazê-lo.
«As pessoas até podem procurar características do meu pai em mim, mas eu não ligo a isso. Sou muito diferente dele. Futre só houve um e como o original não haverá mais nenhum», diz Fábio, filho de Paulo Futre, ao Maisfutebol. «Também gosto de ir para cima dos defesas, mas ele era mais rápido. O meu pai era de outro mundo.»
Fábio Futre é a ligação que resta da família ao At. Madrid. O jovem representa o At. Madrileño, no último degrau de uma formação de jogador que começou nas escolinhas, aos nove anos. No último ano antes de passar a sénior, Fábio não consegue separar-se daquelas cores. «O At. Madrid é o meu clube do coração. Há-de ser sempre.»
«Quero sempre que os três grandes ganhem, mas não com o Atlético»
Por isso terça-feira vai estar a torcer pelos colchoneros. «Vai ser um jogo equilibrado», garante. «São duas boas equipas e espero um grande jogo. Acho que qualquer uma pode passar. Mas eu espero que passe do At. Madrid», sublinha. «Gosto muito de Portugal e quero que os três grandes ganhem sempre na Europa, mas não com o Atlético.»
Não vai ver o jogo no Estádio Vicente Calderón, ao contrário do pai. «Vou ver pela televisão.» Mesmo assim garante que o jogo não será motivo de desavença familiar. «Não vou discutir com o meu pai. Ele já disse que vai estar dividido, eu vou torcer pelo At. Madrid e se ganharmos tenho a certeza que ele vai ficar contente por mim.»
«Não sou português nem espanhol, sou ibérico»
Nascido em Madrid, quando o pai jogava no Atlético, Fábio Faria diz que se sente em casa em Espanha. «Aqui tenho os meus amigos, a minha casa, a minha escola», frisa. «Mas também gosto muito de ir a Portugal. Tenho família no Porto e no Montijo, vou lá algumas vezes e todos os anos passo uma semana de férias no Algarve. Gosto muito.»
Por isso não consegue escolher entre um país e o outro. «É impossível dizer. Os meus pais são portugueses, a minha família é portuguesa, mas os meus amigos são espanhóis e foi aqui que um nasci. Não consigo escolher entre um país e outro», revela. «Como eu costumo dizer muitas vezes: não sou português nem espanhol, sou ibérico.»
Apesar disso foi a selecção portuguesa que representou. Na categoria de sub-17. «Disse sempre que a primeira selecção que me chamasse seria a que representava. Assim foi». Com a passagem a sénior, pode escolher novamente entre as duas. «O princípio mantém-se. A primeira que me chamar, se alguma me chamar, é a que vou representar.»
«Tenho o sonho de continuar no At. Madrid»
Neste momento, porém, o futuro de Fábio Futre é uma incógnita. «Fui operado em Outubro de 2007 aos dois joelhos, devido a deslocação das rótulas. Regressei em Abril, fui um torneio em Maio, mas voltei a lesionar-me em Agosto. Só voltei a jogar agora em Novembro e ainda estou em processo de recuperação. Felizmente não tenho dores.»
Fábio Futre sabe que a lesão veio na pior altura. Por isso não faz planos. «Vou tentar ser jogador profissional, mas neste momento só quero recuperar. Tenho jogado quinze ou vinte minutos por jogo. Quero recuperar para voltar a ser titular. O futuro logo se vê. Tenho o sonho de ficar no At. Madrid B ou C, mas nesta altura não faço planos.»
O jovem diz que é uma fase complicada. «É preciso coragem e muita confiança. Tenho tido isso tudo, felizmente», diz. «Completei o 12º ano com aproveitamento. Este ano interrompi a escola para me dedicar a mim e a recuperar da lesão. Mas se não puder ser jogador profissional, volto a estudar. Vou para a universidade e sigo outra vida.»