Libreville, capital do Gabão, 11h15 da manhã. Jorge Costa atende o telemóvel ao Maisfutebol, poucas horas antes de saber o que lhe reserva o sorteio para o CAN2015.

A paisagem, explica-nos, é fantástica. «Um paraíso», resume o treinador português, 43 anos.

A cidade é banhada pelo Golfo da Guiné. Mais de metade dos 1,5 milhões de habitantes do país vivem nesta urbe. «É completamente seguro, mas falta muita coisa. Estamos em África», conta Jorge Costa, no início de uma conversa que desagua no futebol, naturalmente, mas que percorre outros temas.

ENTREVISTA A JORGE COSTA: «O Gabão vai fazer coisas engraçadas no CAN»

Curiosidades sobre um país estranho para a esmagadora maioria dos europeus. «Não há shoppings, vamos sempre aos mesmos restaurantes, mas estamos bem. Somos cinco portugueses na equipa técnica e isso facilita tudo».

A assimetria social é enorme, descreve Jorge Costa. Poucos muito ricos e muitos, muitos pobres. Curiosamente, a segurança é total. «Podemos deixar as portas abertas. É um paradoxo. Andamos tranquilos na rua».

Libreville é a quarta cidade africana mais cara, só atrás de Luanda (Angola), Juba (Sudão do Sul) e Brazzaville (Rep. Congo). Uma refeição pode custar 50 euros, uma garrafa de vinho razoável ronda os 40 euros.

Detalhes de um pedaço de África. «Os recursos naturais são fantásticos, o potencial do país é enorme, mas depois faltam algumas coisas básicas. Ter acesso à internet, por exemplo, é extremamente complicado, tal como é ver os jogos da liga portuguesa. Trouxe uma box comigo, mas não funciona aqui em lado nenhum».

Perante tudo isto, terá Jorge Costa saudades do futebol português? «Tenho lugar no futebol português, mas estou a fazer o que gosto. Sou bem tratado, estou num projeto super ambicioso e que me preenche totalmente. Sei que quando sair daqui vou olhar para trás e ficar orgulhoso».

O antigo defesa central do FC Porto e da Seleção Nacional deixou Portugal em 2011. Passou pela Roménia (CFR Cluj), Chipre (Anortosis e AEL), voltou ao nosso país para salvar o Paços Ferreira da descida e seguiu para o Gabão no último verão.

Confrontado com a associação constante do seu nome ao FC Porto e à seleção, mesmo para o cargo de treinador, Jorge Costa diz sentir-se «orgulhoso».

«Não me incomoda nada que falem de mim, creio que as pessoas reconhecem o meu valor. Mas não tenho qualquer mágoa ou nostalgia por não estar agora em Portugal. Tenho o sentido de dever cumprido, ninguém me pode acusar de falta de empenho ou profissionalismo»
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A milhares de quilómetros de casa, Jorge Costa mata as saudades com a companhia dos adjuntos e de outros emigrantes portugueses.

«Num passeio pela praia, logo nos primeiros dias, conhecemos compatriotas nossos que vivem aqui no Gabão. Marcamos alguns jantares para conviver um pouco. Um deles já esteve no Senegal, em Angola e nos Camarões e diz que onde se vive melhor é no Gabão»

O CAN arranca a 17 de janeiro. Antes disso, Jorge Costa passará sete dias em Portugal, para celebrar o Natal. Depois, África volta a chamá-lo, para que o técnico faça a estreia numa grande competição de seleções.