Três vitórias, três empates, zero derrotas. Primeiro lugar no Grupo C de qualificação para o CAN, à frente de Burkina Faso, Angola e Lesotho. Jorge Costa dificilmente poderia exigir mais da sua seleção do Gabão.

Em entrevista ao Maisfutebol, o selecionador das Panteras traça um retrato da equipa, indica os objetivos definidos para a maior competição entre seleções africanas e mostra-se entusiasmado pelo que já conseguiu fazer pelo futebol do Gabão.

A maior figura da seleção, ou pelo menos a mais mediática, é Pierre-Emerick Aubameyang, avançado do Borussia Dortmund, mas outros nomes já começam a despertar alguma atenção.

ENTREVISTA A JORGE COSTA: «Tenho lugar no futebol português»

Bruno Ecuele Manga, defesa central, assinou em setembro pelo Cardiff, por cinco milhões de euros; André Poko, médio, pertence ao Bordéus; Lloyd Palun, outro centrocampista, joga no Nice; Levy Madinda está ligado ao Celta Vigo desde 2010 e Junior Oto’o joga na equipa B do Sp. Braga.

Que balanço faz destes cinco meses como selecionador do Gabão?
«Tudo está a corresponder às minhas expetativas. No início foi um choque, pois estamos em África e as diferenças para aquilo que era a minha realidade são enormes. Na minha equipa técnica há mais quatro portugueses e apoiamo-nos muito. Está a ser uma experiência produtiva, diria mesmo que enriquecedora a todos os níveis».

O primeiro objetivo foi alcançado: estar no CAN. E agora?
«Esse era, de facto, o primeiro desafio. Tínhamos essa pressão e correu pelo melhor. Não tivemos muito tempo para preparar a campanha de qualificação, foi uma luta contra o tempo. Agora temos de responder bem em Marrocos, na fase final, dentro de mês e meio».

Falar no título africano é exagerado ou coloca o Gabão entre os favoritos?
«Temos de ir com muita calma. O Gabão só esteve quatro vezes no CAN e o melhor que conseguiu foi uma presença nos quartos-de-final. Estamos a falar de um país só com um milhão e meio de habitantes. No futuro creio que esta seleção pode fazer coisas engraçadas mas, por ora, não nos posso colocar entre os favoritos»
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Que equipa é esta, como a descreve?
«É uma equipa que foge do protótipo normalmente associado às seleções africanas. Temos uma equipa tecnicamente forte, evoluída taticamente e que se aproxima mais daquilo que se vê no futebol europeu. Mas é uma seleção muito jovem, com uma média a rondar os 21 anos. Só o guarda-redes [Didier Ovono, ex-Paços Ferreira] e o Pierre [Aubameyang] são mais velhos. Ainda cometemos aqueles erros cheios de ingenuidade. Prevejo, ainda assim, coisas boas, até porque já temos vários atletas a evoluir na Europa».

Quais os principais obstáculos que tem encontrado no Gabão?
«A liga profissional já não compete há seis meses. Há contornos complicados, nem é fácil explicar bem os motivos para isso. Obviamente, isso compromete muita coisa».

É a primeira vez que ocupa o cargo de selecionador. Não está a estranhar a falta do treino diário?
«Sim, um pouco, é completamente diferente trabalhar uma equipa desta forma. Não conseguimos ver aquele crescimento diário nos atletas, no grupo, mas é entusiasmante também. Temos de fazer a gestão das viagens, planear bem os treinos, não se trabalha a parte física… temos é de impor o nosso método e encontrar o equilíbrio rapidamente. Falta alguma organização e profissionalismo, embora acredite que as coisas podem andar para a frente»
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Como têm reagido os responsáveis gaboneses ao seu trabalho?
«O feedback tem sido muito positivo, sinceramente. Desde o nosso team manager ao funcionário do hotel onde estamos, todos nos dizem que estamos a fazer coisas extraordinárias pelo futebol do Gabão. Para nós, treinadores, está a ser um trabalho normalíssimo, sério e profissional, mas nada de muito moderno ou revolucionário. Somos um pouco mais disciplinadores e rigorosos, para eles isso faz toda a diferença».