Ao lembrar, na conferência de imprensa que antecedeu o jogo, que o regresso ao estádio Emirates ia permitir-lhe reencontrar  Mesut Özil,  antigo companheiro de escola, de cidade e de clube, Manuel Neuer não adivinharia o que o início de jogo lhe tinha reservado. Mas foi no frente a frente entre os dois ex-colegas de escola, logo aos 9 minutos, que a história do jogo começou a escrever-se: quando Özil se encaminhou para cobrar um penálti, o guarda-redes do Bayern aguentou o mergulho o mais que pôde, talvez lembrando-se dos tempos de escola, ou dos treinos no Schalke, onde ambos se lançaram como profissionais, no verão de 2006. 

Özil falhou, como já tinha falhado na fase de grupos, diante do Marselha.  «Eu sei como ele bate os penáltis, e sei que ele iria esperar muito até escolher um lado», revelou no fim da partida, comentando uma defesa determinante.  O certo é que aquele lance condicionou muito o bom início do Arsenal. Quase tanto como o segundo penálti do jogo aniquilou as esperanças inglesas de vencer a partida.

Vamos aos factos: o campeão europeu voltou a bater o Arsenal, em Londres, por uma diferença de dois golos, numa partida que ainda teve 38 minutos de elevada intensidade, até à expulsão de Szczesny. A partir daí só deu Bayern: com uma posse de bola esmagadora (chegou aos 78%), a equipa de Guardiola deixou os «gunners» desarmados, com a única missão de não perder por muitos. Podia ter ficado tudo resolvido esta noite, mas convém não esquecer que, há um ano, depois de perder 1-3 em a casa, a equipa inglesa foi ao Arena de Munique vencer por 2-0 e só caiu pela diferença de golos.

O espetáculo estava prometido depois do que já tinha sido visto na temporada passada, também nos oitavos de final. Nesta quarta, o jogo começou ainda antes do primeiro apito de Nicola Rizzoli, com o anúncio do onze do Arsenal que incluía, contra todas as expetativas, a aposta no jovem Yaya Sanogo no lugar de Olivier Giroud, com o apoio de Chamberlain e Cazorla nas alas e ainda com o alemão Özil nas costas. O francês nunca tinha jogado na Champions e esta temporada contava apenas com três jogos incompletos.

Confira a FICHA DO JOGO

Pep Guardiola, ainda sem Frank Ribéry, apostava num reforço do meio-campo, deixando Mandzukic destacado na frente, com Robben e Götze bem abertos nas alas e um triângulo a meio campo com Javi Martínez, Thiago Alcantara e Tony Kroos.

Os primeiros minutos do jogo deixaram água na boca, com duas grandes defesas para cada lado e duas grandes penalidades desperdiçadas. Szczesny foi o primeiro a brilhar, logo aos três minutos, com uma espetacular defesa a anular um remate colocado de Kroos. Um primeiro sinal para o que o médio alemão viria a fazer mais tarde, já com outro polaco na baliza. Mas a verdade é que foi o Arsenal a entrar mais forte, com destaque para a pressão de Chamberlain sobre Alaba. O jogo estava intenso e repartido e Pep Guardiola não deveria gostar do que estava a ver.

Aos 9 minutos, Mezut Özil, que pareceu partir de posição irregular, destacou-se na área e foi derrubado por Boateng. Nicola Rizzoli não teve dúvidas e apontou para a marca de grande penalidade. O próprio Özil atirou para o meio e o gigante Neuer castigou a bola com uma palmada: tudo na mesma no marcador e no jogo, que prosseguiu intenso, com as equipas a atacarem à vez. Boateng, que já tinha visto um amarelo no lance da grande penalidade, escapou à expulso depois de uma entrada que lesionou Gibbs,aos 31 minutos.

O jogo começou a virar aqui. Logo a seguir, grande penalidade para o Bayern, com um grande passe de Kroos (o melhor em campo) a destacar Robben, que depois de um controlo fantástico, foi derrubado por Szczesny. O guarda-redes polaco foi expulso com vermelho direto e Wenger prescindiu de Cazorla para ocupar a baliza com Fabianski. As forças mudavam radicalmente no tabuleiro dos Emirates, mas o marcador continuava inalterado: sem Ribéry em campo, Alaba foi o escolhido para converter a grande penalidade. Mas o seu remate, em jeito, esbarrou no poste. Momento de felicidade para o recém-entrado Fabianski, primeiro guarda-redes suplente na história da Champions a escapar a um penálti no momento da entrada sem sofrer golo.

Veja como Alaba falhou o penalti

A primeira parte acabou com um Bayern a crescer e um Arsenal a diminuir a olhos vistos, depois de ter conseguido exigir respeito ao campeão europeu enquanto jogou de onze para onze. Era o prenúncio de um segundo tempo em tudo diferente: o Bayern assumiu totalmente o controlo do jogo, diante de um adversário cada vez mais encolhido, e chegou à vantagem, aos 59 minutos, com um remate imparável de Kroos, a levar a bola ao ângulo, sem hipótese para Fabianski. O jogo já tinha sentido único, nesta altura, mas a pressão do Bayern continuou a crescer na procura de um segundo golo, diante de um adversário que não podia fazer mais do que tentar travar as pretensões dos alemães.

Veja aqui o grande golo de Kroos

Guardiola foi afinando o ataque com as entradas de Müller e Pizarro e acabou por chegar ao segundo golo, aos 88 minutos, com Lahm a levantar a bola para a área, para a entrada de rompante de Müller que marcou de cabeça. Um dado final que diz muito sobre este jogo, sobretudo da segunda parte: o Arsenal fez um total de 150 passes, enquanto Tony Kroos, sozinho, fez 144 dos 863 efetuados pelo Bayern (com 95 por cento de eficácia) .


Tal como há dois anos, o Bayern volta a conseguir uma vantagem de dois golos e pode continuar a sonhar com quinta final consecutiva. O Arsenal terá que conseguir, no mínimo, o mesmo resultado que conseguiu há um ano ou arrisca-se a cair, nos «oitavos», pelo quarto ano consecutivo.