Uma freguesia, dois jogadores na I Liga. Melhor ainda: uma família, dois jogadores na I Liga. Ambos a dar nas vistas, acrescente-se à improvável equação. Hugo Vieira e Carlos Fonseca fazem a estreia no principal escalão do futebol português, com as camisolas de Gil Vicente e Feirense. Os holofotes não assustaram os dois primos de Galegos S. Martinho, uma aldeia do concelho de Barcelos, que começam a reclamar outro protagonismo.

Longe vão os tempos em que os dois faziam os flancos do ataque do Santa Maria, nos distritais de Braga. Em 2006/07, os dois jogaram juntos no ataque da formação barcelense, deixando fugir a subida aos nacionais por cinco pontos. Foi apenas o adiar do sonho.

«Era fantástico. Ele de um lado, eu do outro. Como dizia o público na altura, nós partíamos aquilo tudo», brinca Hugo Vieira em conversa com o Maisfutebol. Era mais novo um ano que o primo, mas sempre jogou um escalão à frente. A pressa de chegar longe levou-o a aventuras no Estoril e no Bordéus, sem sucesso. Foi no Gil Vicente, depois de uma época de ouro no Santa Maria (marcou quase 50 golos!) que começou a despontar. Carlos Fonseca teve um percurso mais directo, sempre a subir. Do Santa Maria para o Tirsense e de lá para Santa Maria da Feira, pela mão de Quim Machado.

Ora, depois de se estabelecerem na Liga, a missão seguinte era fazerem-se notar. Hugo Vieira conseguiu-o logo na 1ª jornada, com um golo ao Benfica. «Jogar com o Benfica, a abrir, ajudou, mas a equipa já vinha com moral do ano passado. Foi uma experiência única», assegurou. Carlos Fonseca teve uma estreia mais aziaga (foi expulso frente ao Nacional), mas não demorou a mostrar serviço: «O meu melhor jogo foi contra o F.C. Porto. Podíamos ter mais pontos, mas quando voltarmos ao Marcolino de Castro a história vai ser outra.»

Parentesco já rendeu dois jantares a Vieira

Os primos revelação, agora baptizados pelo Maisfutebol, não querem ficar por aqui. Carlos Fonseca fala em «sonhos de criança» como o de jogar pela selecção, enquanto Hugo Vieira tem objectivos bem definidos. «Quero jogar num dos três grandes, mas se não for possível, porque aqui não se aposta em portugueses, quero ir lá para fora, para jogar nas competições europeias», explica, esclarecendo, depois, uma polémica recente.

«Foram-me atribuídas palavras que nunca disse, sobre o facto de querer jogar por outro país. O meu sonho não é jogar por nenhum clube, é jogar na selecção. Vou esperar por uma oportunidade até ao limite do possível. Depois, já no final da minha carreira, se surgir uma oportunidade para disputar um Mundial ou um Europeu não descarto, porque não sou diferente dos outros», frisa. Para já quer ajudar o Gil: «Sou o ídolo dos adeptos, eles adoram-me e tenho de fazer por merecer isso.»

Entre os dois, a relação é de cumplicidade. Uma competição saudável. «Já fizemos duas apostas. Ganhei dois jantares, no ano passado, um deles com um golo meu, na Feira», explica Vieira. Fonseca garante que o cenário vai mudar: «Vou inverter a tendência. O Feirense está melhor que o Gil.» Hugo Vieira reage brincando com factos: «Eu tenho mais títulos.»

Quando se defrontam, a família divide-se. Mas sem quezílias. «Não é só para a família, na própria freguesia há um orgulho muito grande. Somos muito acarinhados», conta o avançado gilista. Fonseca fala ainda de uma infância onde se augurava um futuro brilhante para os dois. «Mas diziam que ele tinha mais habilidade. Eu mostrei-me mais tarde», diz.

Os primos definem-se

Lançámos um desafio aos primos, que ambos aceitaram: Hugo Vieira define Carlos Fonseca e vice-versa. Fica o discurso directo:

Hugo Vieira: «O Carlos é um fora de série que vai ganhar muito dinheiro com o futebol. É muito bom e vai crescer muito mais.»

Carlos Fonseca: «O Hugo faz sempre muitos golos, é muito rápido e tecnicista. Está-lhe a correr bem a época e desejo a melhor sorte ao Gil Vicente.»