*com Jorge Anjinho

O Olhanense alcançou o Paços de Ferreira e ficou mais perto do Belenenses, a primeira equipa acima da linha de água. Diakhité garantiu o empate na receção ao Marítimo (1-1) e Giuseppe Galderisi conquistou o quarto ponto no comando técnico da formação algarvia.

O treinador italiano continua a surpreender e, neste domingo, recorreu a uma fórmula que parecia extinta no nosso futebol:
trocou um jogador de caraterísticas ofensivas por um defesa-central, nos últimos minutos, dando-lhe instruções para se colocar no centro do ataque.

Como seria de esperar, os adeptos do Olhanense não acharam piada à substituição. Assobiaram, lançaram algumas bocas, irritaram-se ao perceber que Galderisi estava a tirar a unidade mais perigosa da equipa (Femi Balogun) para colocar um defesa em campo.

Oumar Diakhité entrou em campo e o que aconteceu? Bola bombeada para a área, enorme confusão e a equipa local a resgatar um ponto na reta final da partida. O senegalês, qual ponta-de-lança, a finalizar na primeira vez em que tocou na bola.

«Se o Diakhité não marcasse, diriam que o Galderisi é incompetente. Mas achei que era a única solução para dar mais força lá na frente. Pedi-lhe uma coisa, ele entrou e fez essa coisa. Eu acreditei, ele também, e surgiu o golo», explicou o técnico italiano após o encontro, apontando para o céu.

(veja a explicação em vídeo, ao minuto 4.00)


Simples, não é? Quando nada parece resultar, um ato de fé passa a fazer sentido.

O Marítimo chegara à vantagem por intermédio de Derley, ao quinto minuto de jogo. Com vento forte na primeira parte, o Olhanense sentiu dificuldades em responder. Na etapa complementar, foi arriscando o que podia.

Giuseppe Galderisi começou por trocar de avançados (Mehmeti por Tozé Marreco). Pouco depois, Mario Santana lesionou-se e o técnico lançou Vojtus. Ao minuto 87, sem mais opções atacantes no banco, chegou a substituição vintage. Saiu o extremo Femi Balogun, entrou o central Diakhité.

O defesa senegalês colocou-se na área contrária e justificou a aposta de risco. Segundo golo na Liga para Oumar Diakhité, segundo ponto garantido. O central já tinha evitado a derrota na visita ao Gil Vicente, a 21 de setembro de 2013. Na altura, o empate também surgiu nos minutos finais (1-1).

A substituição resultou em pleno mas poderá ser, de qualquer forma, contestada. Na prática, deu certo. E fica outro dado curioso: foi apenas o segundo golo de um suplente do Olhanense na Liga 2013/04. A 26 de outubro de 2013, Dionisi saltou do banco para garantir a vitória frente ao Arouca. Nada mais resultou, antes e depois. Agora, foi um central a entrar num plano caricato do treinador.



Oito jogadores para marcar em dez segundos

Guiseppe Galderisi vai impondo a sua ideologia no Olhanense, procurando revitalizar a formação algarvia. Os responsáveis do clube garantiram alguns reforços nesta reabertura de mercado mas cabe ao técnico juntar as peças soltas de forma harmoniosa.

O italiano de 50 anos apresenta uma personalidade forte mas aberta e não abdica de alguns princípios que vão suscitando a curiosidade dos observadores e dos adeptos.

Já antes da aposta em Diakhité, Galderisi surpreendera com a fórmula para «marcar em dez segundos».

Oito jogadores na linha de meio-campo, dois para trás junto ao guarda-redes. Um pontapé de saída, o atraso de bola e tudo lá na frente, para surpreender o adversário.

O Olhanense ainda não chegou ao golo dessa forma mas o atrevimento já levantou dúvidas. A 5 de fevereiro, depois de sofrer em Paços de Ferreira, a equipa algarvia experimentou a fórmula e correu mal: os castores recuperaram a bola e, com o adversário balanceado para a frente, fez o 2-0. No final, vitória local por 3-1.

«Trabalho com jogadores que estão convictos daquilo que fazem e a única coisa que proponho é que eles acreditem nisso. O meu objetivo é fazer um golo após dez segundos. É um início de jogada que sempre faço e que me tem dado resultado, acredito muito nisso. Não é arriscado defensivamente porque estamos organizados para defender, desde que os jogadores saibam o que têm de fazer», defendeu o técnico, recentemente.

Galderisi considera que esse não foi o erro em Paços de Ferreira. «Em Paços de Ferreira sofremos um golo devido a um erro de um jogador que passou mal a bola. É um erro individual que não tem a ver com o início da jogada. Eu proponho esse início de jogo e os jogadores estão convictos que podem marcar, e isso também transmite uma perspetiva ofensiva à equipa», justificou.

(veja a explicação em vídeo, ao minuto 7.30)


Neste domingo, o Olhanense voltou a experimentar a fórmula no início da segunda parte. O Marítimo estava preparado. Mas Pedro Martins não esperaria, por certo, o que aconteceu ao minuto 87: a entrada de um central para a frente de ataque. Resultou.