Neste momento não quero pensar nas promessas que Obama não vai conseguir cumprir, seja por falta de suporte político, circunstâncias económicas ou até condicionantes sociais.
Olho para Jesse Jackson e choro. Choro quando vejo o mundo acreditar, quando as pessoas respondem com um sorriso e um brilho nos olhos como raramente se viu. Choro quando recordo as palavras de Luther King. «I Have a Dream. I Have a Dream».
Depois de tantas divisões, de tantas ilusões perdidas, de tantos abandonos, ouço a voz tranquila de Obama, já sem precisar de sorrir, e repito o desejo: «Yes We Can». Mais do que o trabalho que possa fazer na Casa Branca, Barack já fez muito pelo mundo. Vai ter de preocupar-se com o seu país, justificar uma união sem precedentes, continuar a quebrar muros. Mas o mundo já mudou, pela referência que passou a existir, pela necessidade de encontrar eco nos nossos países, numa vontade de quebrar esta letargia.
Também choro pela possibilidade de o nosso país mudar, seja pelo surgimento de novos líderes, ou, ainda melhor, de uma consciência social que combata a falta de participação cívica.
É uma mudança que podemos começar a acreditar. Uma constante alteração de realidades também no desporto. Se no passado foi Jesse Owens a envergonhar Hitler, passados tantos anos continua a ser preciso derrubar barreiras. Tiger Woods brilha no golf, mas na Fórmula 1 só agora um negro conseguiu ser campeão.
O triunfo de Lewis Hamilton, tal como o de Obama, poderá servir para acabar com este absurdo entendimento de que existem diferenças entre raças. É que, para além do aspecto físico, nunca consegui perceber onde está essa divisão. Talvez nos possamos concentrar no que realmente interessa.
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do IOL, que escreve aqui todas as quartas-feiras
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