Nuno Espírito Santo concedeu uma longa entrevista ao jornal The Guardian, publicada apenas nesta terça-feira, dia da visita ao Leicester. Porém, a conversa com o técnico teve lugar antes de este assumir funções no FC Porto.

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A história começa na sua origem africana de São Tomé e Príncipe: «O meu avô é africano, a minha avó é de uma equipa aldeia em Portugal. Ele chegou de barco e foi a primeira vez que eles viram um homem negro. Morávamos perto da fronteira com Espanha e eu e a minha irmã viajávamos muito com os meus pais.»

O antigo guarda-redes explica dessa forma a sua perspetiva global do Mundo. Depois de falar sobre a transferência do V. Guimarães para o Deportivo da Corunha, o primeiro negócio com peso de Jorge Mendes, Nuno recordou José Mourinho.

«O que eu guardo de Mourinho é a crença que ele tem, aquilo que ele passa aos jogadores, que vamos ter sucesso a lutar contra gigantes», sintetizou.

O jornalista do The Guardian quis saber como é que um guarda-redes passa a treinador e se essa experiência é importante para as novas funções.

Nessa fase da entrevista, Nuno Espírito Santo acaba por revelar que as suas análises de jogo são realizadas com recurso a uma câmara colocada atrás da baliza. Ou seja, para ter uma visão frontal do jogo e não lateral, como costuma ter no banco de suplentes.

«Vês o jogo do melhor local possível. Todas as análises que faço ainda hoje são através de uma câmara colocada atrás da baliza. De lado, a nossa perspetiva é diferente. Nenhum jogador encara o jogo de uma visão lateral. Sei os espaços, as distâncias, e posso avaliar melhor as decisões dos jogadores. De lado, as linhas são diferentes», explica.

Conhece mais algum treinador que opte por esta lógica?

Recuando no tempo, Nuno recordou o curso de treinadores tirado na Associação de Futebol da Escócia, com 36 anos.

«Eles fizeram algo que eu ainda uso. Tudo começa na Scottish FA com um vídeo, como um vídeo com os melhores 50 golos dos anos 80. Nos minutos seguintes há silêncio porque todos ficam hipnotizados. Fizeram isto todos os dias e achei brilhante», lembrou.

Nuno Espírito Santo assumiu entretanto um objetivo de carreira. Nem de propósito. Quer um dia treinar em Inglaterra: «Adoro ver a Premier League e um dia irei treinar lá, tenho a certeza. Não sei se demorará muito ou pouco, mas um dia acontecerá.»

«Todos os treinadores dizem: queremos controlar o jogo, queremos a bola, blá, blá, blá, blá, blá. Mas é impossível ter sempre a bola. Se uma equipa estiver organizada é difícil provocar-lhe danos. Temos de procurar o momento em que não está equilibrada. Quando? Quando recuperamos a bola», salientou o técnico, explicando a sua ideia de jogo.

Será essa então a lógica do atual FC Porto. Recuperar a bola e responder de imediato para apanhar o rival desequilibrado: «Eu penso, embora talvez seja o único, que o processo defensivo pode definir o jogo. Porquê? Porque as equipas esperam para defender. Se conseguires criar algo no sítio onde vais defender, é diferente. É um processo defensivo, sim, mas em que vais à procura disso.»