Sessenta e oito minutos. Foi este o tempo de que o F.C. Porto precisou para agarrar de novo o primeiro lugar na Liga. Mais de duas horas e meia: o tempo necessário para marcar o primeiro golo ao Feirense esta temporada. E, já agora, para cima de quatro horas: o tempo que Paulo Lopes conseguiu manter a sua baliza inviolada no Estádio do Dragão.

A história deste encontro tem no guardião do Feirense um protagonista inevitável. Paulo Lopes foi uma muralha entre o F.C. Porto e o primeiro lugar que a equipa de Vítor Pereira teve muita dificuldade para escalar. Deu seguimento ao que vinha a fazer: em dois jogos, nenhum golo sofrido na casa portista. Esta noite foi enorme. Enquanto deu...

Mesmo elogiando a organização da turma de Quim Machado, que, como prometido, deixou o autocarro na garagem, é preciso perceber que o arrastar do jogo em muito se deveu a uma atitude errónea e demasiado passiva na primeira parte. Foram maus os 45 minutos inaugurais do F.C. Porto. Quem quer ser campeão tem de mostrar mais.

No fundo, o jogo não fugiu à regra do que têm sido as prestações do F.C. Porto no seu reduto, esta época. Quase nunca fica tudo decidido cedo. Este foi apenas mais um. Quem gosta de suspense pode marcar lugar anual no Dragão que talvez não se arrependa.

O estranho caso de Paulo Lopes

Vítor Pereira apostou no onze esperado. Voltou a dar a titularidade a Varela, mas o português, pouco depois de atirar ao lado a primeira oportunidade portista, lesionou-se e deu o lugar a James. O colombiano demorou a abrir o livro, mas, no segundo tempo foi decisivo.

O Feirense foi dando sempre que fazer. Mesmo com o público a reclamar das constantes quedas e assistências médicas, a estratégia dos homens de Quim Machado foi muito mais do que jogar com o relógio. Houve pressão, algum atrevimento e solidez defensiva.

Quando a muralha rachava, aparecia Paulo Lopes a emenda-la. Tremenda a exibição do guardião, um dos bons valores desta Liga que parece nunca ter tido o reconhecimento devido.

A defesa ao livre de Hulk, na primeira parte, foi a primeira de uma sequência que levou o Dragão a um completo estado de nervos. No mesmo período, ainda evitou que James festejasse e no segundo tempo, até ao golo, deu um festival. Tapou o caminho a Lucho, num lance em que o argentino até estava em fora de jogo; evitou que Janko marcasse pelo quarto jogo consecutivo; defendeu um remate de James de fora da área e ainda a recarga de Janko. E, claro, parou um penalty.

Quando Luciano agarrou o isolado Janko dentro da área parecia aberto o caminho da baliza fogaceira. Ilusão, apenas. Hulk atirou colocado, Paulo Lopes foi ao solo segurar o nulo.

«Apaguem as luzes!»

Nesta fase o F.C. Porto, diga-se, já massacrava. A expulsão de Luciano, no penalty, expunha ainda mais a linha defensiva do Feirense. Mas havia Paulo Lopes, lá está, capaz de contrariar qualquer sentido lógico. Não ficou assim tão longe.

Chegou, então, aquele minuto 68. Um livre de James descobriu a cabeça de Maicon que abriu finalmente o ferrolho. Respirava fundo o Dragão, que pouco depois, na melhor jogada coletiva do encontro, viu James dizer: ponto final. Excecional a ação de Lucho que já antes tinha enviado uma bomba à trave. A esmagadora maioria dos jogadores de futebol teria assistido Janko, nesse lance. O argentino, que pisa caminhos menos prováveis, deu a bola a James, que finalizou.

Depois de muitos nervos, o F.C. Porto resolvia o jogo em quatro minutos e voltava à liderança do campeonato. Tem os mesmos pontos do Benfica, mas vantagem na diferença de golos. «Apaguem as luzes!» gritaram em provocação os adeptos portistas nas bancadas, dando o mote para o reencontro com o Benfica, na próxima ronda.

Chega à Luz como líder o campeão nacional. Cenário muito improvável há oito dias. Cenário real, com culpas dividas entre os dois candidatos. O Clássico promete parar o país. Mas ficou menos decisivo.