13 de janeiro de 1988, há 28 anos. O FC Porto venceu a Supertaça Europeia, a única conquistada por uma equipa portuguesa... aliás, os azuis e brancos foram mesmo o único clube português a disputar a prova até agora.
Frente a frente, FC Porto, que tinha chocado o mundo meses antes ao sagrar-se campeão europeu, vencendo o Bayern Munique, e campeão mundial na neve de Tóquio, frente ao Peñarol, e Ajax, vencedor da Taça das Taças, com créditos europeus firmados, vencedor da primeira Supertaça Europeia (em 1973), e formado por uma verdadeira constelação de estrelas.
O FC Porto estava em fase de mudança. Tomislav Ivic tinha substituído Artur Jorge no lugar de treinador e levou a equipa à vitória na Taça Intercontinental. Rabah Madjer, o herói de Viena, autor do golo de calcanhar que ninguém esquece, deixara os dragões em dezembro para jogar no Valência.
O Ajax, comandado por Johan Cruyff, tinha vários jogadores que venceriam o Euro 88 meses depois, Dennis Bergkamp (ainda muito jovem), Ronald de Boer, Danny Blind, Menzo e Aaron Winter, por exemplo.
Numa entrevista recente, Rui Barros recordou que, apesar de entrarem em campo com o estatuto de campeões europeus, os portistas não se sentiam favoritos. «Sentíamos, sim, que tínhamos uma equipa bem consolidada, forte, e uma confiança enorme. Sabíamos que era um adversário com grande historial e que jogava muito bem. Mas entrámos com sentido de responsabilidade e lutámos por um título que tínhamos a esperança de ganhar».
O gigante Rui Barros e o festival de golos falhados
Apesar de, em 1986, o troféu ter sido disputado apenas num jogo, a edição de 1987 voltou a contar com duas mãos. Na primeira, os portistas jogaram fora, no Estádio De Meer, antiga casa dos holandeses, no dia 24 de novembro de 1987 (ainda a Taça Intercontinental não tinha sido conquistada).
Os adeptos holandeses mal se tinham ajeitado nas bancadas quando as redes balançaram. Acabado de chegar do Varzim, e em dia de aniversário (completava 23 anos), Rui Barros fez uma tabela com Gomes, desmarcou-se, driblou o guarda-redes, recuperou o equilíbrio que tinha perdido entretanto e fez o golo, abrindo o marcador quando o relógio marcava apenas cinco minutos de jogo.
O 1-0 manteve-se, de forma incrível, até ao final. Isto porque o FC Porto dominou o encontro, mas foi também amealhando golos falhados uns atrás dos outros.
A vitória, o capitão «finito» e a monumental assobiadela
O segundo encontro foi disputado quase dois meses depois, no Estádio das Antas. No tal dia 13 de janeiro de 1988. Estava frio e chuva e o relvado ia-se transformando num lamaçal. O golo da primeira mão permitia um empate na segunda, mas o 0-0 que perdurava no marcador era um resultado perigoso.
Aos 69 minutos, a festa nas bancadas parou. Os aplausos transformaram-se em assobios. O destinatário: Ivic. Com o marcador ainda nulo, o técnico decidiu substituir o capitão Fernando Gomes por Jorge Plácido. A substituição foi encarada pelos adeptos como mais um episódio do diferendo entre o treinador e o jogador, que era público porque, em novembro de 1987, Ivic, afirmou numa entrevista: «Gomes é finito!» E a relação do avançado com a direção também não era das melhores.
Mas os adeptos não gostaram que o capitão fosse substituído para não poder levantar o troféu, demonstraram o carinho que tinham pelo jogador e protestaram com uma assobiadela monumental.
António Sousa voltou a trazer a festa às bancadas aos 70 minutos. Na sequência de um livre, o médio apareceu à entrada da área e rematou uma bomba que só parou dentro da baliza do guarda-redes Menzo, que pouco ou nada podia fazer para a travar.
A taça estava ganha e o subcapitão Lima Pereira trocou as voltas ao treinador e à direção e entregou o troféu a Fernando Gomes para que fosse ele a erguer aquele que era o terceiro troféu internacional no espaço de um ano.