5 de outubro de 1960, há 55 anos. Cumpria-se um sonho de décadas dos adeptos e do clube encarnado. Era inaugurado o terceiro anel do Estádio da Luz que quase duplicou a lotação do recinto, se tornou numa espécie de entidade mística, e acabou por ser um amuleto para uma campanha de glória.
50 anos de casa às costas
Fundado em 1904, o Benfica passou grande parte dos primeiros 50 anos a jogar em terra arrendada. O clube começou por utilizar os terrenos públicos das Terras do Desembargador, nas Salésias, saindo depois por causa da degradação do recinto. Na época de 1906/07 passou a jogar em Carcavelos e na Cruz Quebrada, começando depois também a utilizar as instalações da Quinta da Feiteira, na zona de Benfica. Sete Rios passou depois a ser a casa utilizada, um campo próprio construído num terreno alugado, seguiu-se o Campo de Benfica, o Campo de Palhavã e o Estádio do Campo Grande, construído em terrenos arrendados ao histórico rival Sporting (1941–1954). O Estádio das Amoreiras (1925–1940), um recinto com capacidade para 20 000 adeptos, pertencia ao clube, mas foi demolido para dar lugar à Avenida Duarte Pacheco.
Em 1946, após um longo processo negocial com a Câmara Municipal de Lisboa, começou então a campanha para a construção de casa própria, na zona de Benfica, para onde o clube queria volta. Os sócios contribuíram em dinheiro, géneros (para leiloar) e trabalho, e em 1954, as portas da casa foram então abertas.
A oferta do presidente
Quatro anos depois, em 1958, toma posse como presidente dos encarnados Maurício Vieira de Brito. A direção começou então a trabalhar na progressiva melhoria das instalações do clube e, após a inauguração da iluminação do Estádio, em 1958, anunciou mesmo a oferta ao clube da nova bancada, o terceiro anel.
As obras começaram a 25 de Agosto de 1958 e para comemorar o feito o Benfica organizou um festival de futebol. O presidente Vieira de Brito iniciou as festividades conduzindo a escavadora que iria abrir o primeiro buraco das obras. E houve ainda música por parte do rancho infantil da Chamusca e a atuação da Marcha de Campolide.
Quando foi construído o estádio tinha lotação de 40 mil espectadores. O terceiro anel, que na altura era apenas num das bancadas, aumentou a capacidade para 70 mil. Em 1985, com a expansão do terceiro anel a todo o recinto, a Luz passou a poder albergar 120 mil pessoas, tornando-se então no maior estádio da Europa.
Mais um círculo no Inferno
Mas voltemos a 1960, ao tal dia 5 de outubro, em que o terceiro anel foi inaugurado. O estádio engalanou-se para a ocasião, mas não apenas por causa da bancada nova. A festa coincidiu com a receção do Benfica ao Hearts, da Escócia, em encontro da segunda mão da primeira eliminatória da Taça dos Campeões Europeus 60/61, aquela que os encarnados viriam a ganhar «sem espinhas», para surpresa da Europa.
Depois de uma vitória por 2-1 na Escócia, com golos de José Águas e José Augusto, o Benfica venceu em casa por uns claros 3-0. Os marcadores foram os suspeitos do costume: José Águas, que bisou, e José Augusto. A pré-eliminatória estava no papo, e o resto da competição também não escaparia.
Os húngaros do Ujpest Dozsa (6-2), os dinamarqueses do Aarhus (3-1) e os austríacos do Rapid Viena (3-0) foram os adversários seguintes. Na final, a equipa de Bela Gutmann bateu o Barcelona por 3-2 e arrecadou o primeiro dos dois títulos seguidos da mais importante competição da UEFA, prova até então sempre ganha pelos espanhóis do Real Madrid.
O terceiro anel, esse, viria a mostrar que era mais do que uma bancada, um aro de cimento onde as pessoas se podiam sentar. Aumentar a capacidade do estádio permitiu aumentar a quantidade de adeptos, a quantidade de apoio à equipa. O ambiente impressionava os adversários e criou a mística do «Inferno da Luz». Era o 12.º jogador, e «terceiro anel» passou também a ser o nome informalmente dado aos adeptos mais fiéis.