Brasil-Colômbia, 21h, RTP 1
Estádio Calestão, Fortaleza
Árbitro: Carlos Velasco (Esp)


O Brasil-Colômbia desta sexta-feira é mais do que um dos grandes jogos dos quartos de final do Campeonato do Mundo; é o primeiro jogo deste Mundial que coloca frente a frente duas das maiores figuras do que já foi jogado durante uma fase de grupos e uma eliminatória: Neymar Jr. e James Rodríguez.

O brasileiro já entrou para o Campeonato com esse estatuto e tem sido o jogador mais influente da seleção canarinha . O colombiano foi ocupando o espaço em aberto na seleção cafetera pela ausência da estrela-maior Falcao e assumiu-se não só como o jogador mais importante da Colômbia, mas como a revelação (em absoluto) do Mundial 2014.

Com cinco golos marcados em quatro jogos da Colômbia, James é o melhor marcador do Campeonato do Mundo. Neymar está no segundo lugar dos marcadores, cuja marca de quatro golos é partilhada com outros jogadores (Müller e Messi). Os números de Neymar e James são bastante idênticos nas estatísticas de comparação apresentadas pela FIFA.



Na análise particular de cada um há ligeiras diferenças – que até estão diretamente relacionadas com as posições não idênticas que cada um ocupa em campo – que, num caso concreto, atestam a maior importância do jogo desenvolvido pelo colombiano: além de ser líder dos marcadores, James fez ainda mais duas assistências para golos dos seus colegas de equipa; algo em que Neymar está a zeros. O canarinho destaca-se, contudo, por já ter conseguido meter 11 bolas na pequena área que não foram aproveitas, enquanto a percentagem de cruzamentos bem sucedidos do cafetero está nos 47,1%.

Os dois jogadores vão agora enfrentar-se num Mundial quando têm a mesma idade – se bem que James fará 23 anos no próximo dia 12. São, assim, da mesma geração, mas Neymar, apesar de ser um ano mais novo, teve uma ascendência ao estrelato bem mais cedo do que o antigo jogador do FC Porto. Essa diferença na chegada ao topo foi responsável pelo facto de que James e Neymar, jogadores da mesma confederação, terem estado frente a frente em campo apenas por uma vez.

Em novembro de 2012, os dois jogadores encontraram-se em campo pela primeira vez. Ambos foram titulares num particular entre Brasil e Colômbia. O resultado foi um empate 1-1. Neymar saiu a ganhar no duelo particular, pois marcou o golo brasileiros – o dos colombianos foi marcado por Cuadrado. As carreiras nas seleções – quando chegavam à idade sénior – foram entretanto uma história de desencontros.

O encontro esteve marcado para o torneio sul-americano sub-20 de 2011, que faz a qualificação para o Mundial da categoria. Neymar esteve com o Brasil e foi a estrela da competição: os brasileiros ganharam o torneio com nove golos do então jogador do Santos. James não esteve presente. O FC Porto de então, comandado por André Villas-Boas, não prescindiu do talento colombiano durante o mês de janeiro numa prova em que a FIFA não obriga à libertação dos jogadores.



Com as duas seleções apuradas para o Mundial sub-20, a disputar na Colômbia, os dois jogadores poderiam ter encontro marcado para o verão de 2011. James levou a sua seleção aos quartos de final num percurso que acabou por não ter o Brasil pelo caminho. Mas nem sequer chegou a haver hipótese. Neymar já se tinha estreado pela seleção principal do Brasil em 2010. Em 2011, depois do «sul-americano» passou a ser regular a sua presença. E, nesse verão, já não foi ao Campeonato do Mundo sub-20 e sim à Copa América. James disputou o Mundial sub-20 no seu país levando a sua seleção até aos quarto de final, num percurso que até acabou por não incluir o Brasil.



Como o Brasil não disputou a fase de qualificação da América do Sul para este Mundial 2014 (na qualidade de país organizador), colombianos e brasileiros não tiveram recentemente encontros marcados entre si. O último jogo foi precisamente aquele que já foi referido: o de novembro de 2012. Em que os dois jogadores se defrontaram pela primeira vez. Como vão fazê-lo nesta sexta-feira. E, desta vez, é p`ra valer.

Este será o 26 jogo entre o Brasil e a Colômbia. E a vantagem é clara para os canarinhos, que ganharam 15 partidas. Os cafeteros apenas por duas vezes venceram os brasileiros e a última delas foi já em 1991. O último triunfo do Brasil foi também conseguido há já 11 anos, todavia. Entre os oito empates registados, metade verificou-se nos últimos quatro jogos ocorridos.

O Brasil apresenta-se como favorito – como o será sempre neste Mundial jogado em casa e em que sempre se assumiu como candidato a ganhar a competição. A Colômbia surgirá sempre no papel do oponente que pode bater o pé ao favorito – mesmo que as hipóteses de isso acontecer sejam cada vez maiores à medida do seu percurso.

Partindo dessa consideração, a seleção comandada pelo argentino José Pekerman é uma das duas que ganhou todos os jogos sem precisar de disputar o prolongamento nos 16 avos de final (a outra foi a Holanda – não sendo tão convincente na forma como o conseguiu). Os brasileiros, pelo seu lado, tiveram um empate na fase de grupos e, não só jogaram um prolongamento na eliminatória anterior, como só apuraram para estes quartos de final na marcação de pontapés da marca de grande penalidade.



A Colômbia é uma das seleções com a melhor defesa e só sofreu dois golos nos quatro jogos disputados (como França, Bélgica e Costa Rica). Ao ataque, os colombianos já conseguiram 11 golos e só perdem nesse registo para a Holanda (12). Já a seleção de Luiz Felipe Scolari tem uma diferença entre golos marcados e sofridos de 8-3.

O Brasil ainda não teve uma exibição convincente «RumoAoHexa», mesmo que Scolari continue a garantir que a sua seleção «continua com a mão na Taça». A pressão de ganhar em casa é muita e a intervenção de psicólogos depois do choro em massa que se libertou depois do apuramento frente ao Chile não pôde ter outra leitura. O que não se passa com a Colômbia. Os cafeteros estão pela primeira vez nos quartos de final e a sua perspetiva é a do melhor resultado possível; seja ele qual for...



E é nesta diferença de rendimentos associada à pressão sobre as equipas que pode estar muito do que vai acontecer no Castelão. Scolari fez muitas inovações no trabalho de treino observado pelos jornalistas e podem acontecer várias alterações no seu onze. Mas a única certeza é a de que Luiz Gustavo cumpre suspensão de um jogo.

Paulinho deverá recuperar a titularidade, assim como Fernandinho deve entrar de início. O Brasil deverá jogar com a seguinte equipa: Julio César, Dani Alves, Thiago Silva, David Luiz, Marcelo, Óscar, Paulinho, Neymar, Fernandinho, Hulk e Fred. Já Pekerman, tem todos os jogadores disponíveis e, dado o excelente comportamento da equipa quer a defender quer a atacar, se não decidir reforçar o meio-campo com um quinto elemento, deverá manter o onze que venceu o Uruguai: Ospina, Zúñiga, Zapata, Mario Yepes, Pablo Armero, James Rodríguez, Aguilar, Carlos Sánchez, Cuadrado, Teófilo Gutiérrez e Jackson Martínez.

E mais do que o grande embate que se espera entre as duas seleções, aguarda-se também o embate entre a grande figura de cada equipa: Neymar Jr. e James Rodríguez – os que têm centrado as atenções quase totais nas duas seleções, nas fotografias veiculadas, nos artigos escritos [como este]. Tem sido inevitável.

Neymar carrega esse peso desde quando o Mundial não tinha ainda tido o pontapé de saída, concorrendo com Messi e com Cristiano Ronaldo. O Campeonato do Mundo vai avançando e o brasileiro continua a ter nas suas costas as esperanças de um país que não viu a sua seleção convencê-lo. Já James agarrou em pleno Mundial esse estatuto de figura da seleção em quem os adeptos centram aspirações.

E, depois de a Colômbia ter entrado em prova sem a estrela maior Falcao, o miúdo com cara de bebé que começou a jogar em Ibague, não só já é dado como exemplo na academia de futebol local, como já é também a cara do país, como está exibido na câmara municipal.



Se Neymar é desde dia 12 o maior receio para todos os que sabem que podem ter o Brasil pela frente, o colombiano James Rodríguez é o maior receio que os brasileiros passaram a ter desde que sabem que têm a Colômbia pela frente no caminho do seu sonho. Neymar reconheceu o talento do adversário. E o desejo de que aquele seja interrompido nesta sexta-feira é o exemplo de que tudo está mesmo relacionado.