Quando não há dúvidas dizemos: «Bem, este estava uns três metros adiantado»; «Estava totalmente isolado» ou apenas «Só não viu quem é cego ou não quer ver».
Por estes dias, todas estas expressões encheram as conversas de café, os debates televisivos e os artigos de opinião. É usual falar-se em escândalo, há quem ouse atingir o nível do roubo e até mesmo do premeditado, ou então apenas a lei da compensação por erros anteriores. Certo é que este tipo de lances decidem jogos.
E é aqui que todos nós chegamos ao absurdo. É certo que se nos tirarem uma boa discussão sobre futebol ficamos com demasiado tempo para pensar noutras coisas, mas talvez seja mesmo melhor não nos concentramos demasiado nestas idiotices que facilmente seriam resolvidas pela tecnologia.
Quer dizer, podem existir avançados programas de análise do jogo, com câmaras instaladas em vários pontos de um estádio para se perceber a movimentação dos jogadores. Podem haver estatísticas detalhadas, imagens em alta definição, painéis electrónicos, voto por SMS para o melhor jogador em campo, mas dentro daquelas linhas o futebol teima em ser analógico. O fora-de-jogo, a par da dúvida sobre se a bola entrou ou não na baliza, é o paradigma desta decrepitude.
Golos como o de David Luiz frente ao Sp. Braga ou o de Vukcevic com o Rio Ave são anormalidades nos dias que correm. E falo destes porque são os mais recentes e notórios, porque são casos atrás de casos.
Situações ingratas para a equipa de arbitragem, que até nem faz de propósito para errar (parto desse princípio), mas que depois é ridicularizada, achincalhada e insultada pela evidência do erro. Simplesmente porque a sociedade, por muito atrasada que seja, há muito que aderiu ao mundo tecnológico e vê sem parar aquelas linhas que se traçam na TV e mostram a diferença entre a verdade e a batoteira.
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do PortugalDiário, que escreve aqui todas as semanas
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