Contestado pelos adeptos a propósito de um ciclo de maus resultados, anormal no FC Porto, Paulo Fonseca tem andado entre a insistência e a inconsistência, por contraditório que possa parecer.

A insistência é visível, antes de mais, na decisão de prescindir do 4x3x3 utilizado durante os últimos anos, com sucesso, por troca com um 4x2x3x1 que não tem funcionado. Paulo Fonseca ainda não encontrou a companhia ideal para Fernando e Lucho, e também tarda em definir os extremos para servir Jackson Martínez.

Mas apesar destas questões, muito debatidas desde o início da época, Paulo Fonseca tem mostrado alguma insistência nas opções, na verdade. Entre os técnicos dos «grandes», o portista é aquele que menos mexe na equipa.

Nesta comparação excluem-se os jogos da terceira eliminatória da Taça de Portugal, ocasião aproveitada por todos os técnicos para apostar em jogadores menos utilizados. No global, é Paulo Fonseca aquele que tem menos alterações no «onze» por opção. Excluindo as decisões motivadas por lesão ou castigo, o técnico portista faz, em média, uma alteração por jogo (1,05). Menos do que Leonardo Jardim (1,18) e bem menos do que Jorge Jesus (1,56).

Se analisarmos as opções habituais de Fonseca, é fácil perceber que grande parte do «onze» está claramente definido. Helton, Danilo, Alex Sandro, Fernando, Lucho e Jackson, nomeadamente. Também Josué tem sido presença habitual no «onze», mas aqui já entramos na fase das inconsistências. O médio recuperado em Paços de Ferreira tem «saltado» entre a função de falso extremo e uma posição mais central, junto de Fernando e Lucho.

No fundo, Josué tem alternado em duas grandes dores de cabeça de Paulo Fonseca, as posições em que mais tem mexido. Vejamos a sequência de escolhas para a posição 8: Defour, Defour, Defour, Defour, Defour, Josué, Defour, Josué, Defour, Herrera, (Carlos Eduardo com o Trofense, na Taça), Herrera, Herrera, Herrera, Defour, Defour, Herrera, Defour, Josué. O mesmo se aplica na ala, com constantes trocas entre Varela, Licá, Josué, Quintero e também Ricardo numa ocasião.

A inconsistência está depois presente na forma como a equipa joga. Em campo os jogadores parecem estar a lutar contra as suas próprias rotinas. Vivem divididos entre o hábito de conservar a bola, como era habitual, com a estratégia atual de chegar à baliza rapidamente. Não se percebe bem se quer pressionar alto ou esperar pelo adversário, se sobe a linha defensiva ou se joga em profundidade. Parece uma equipa perdida algures entre duas épocas.

O 4x3x3 é pedido de volta, mas Paulo Fonseca insiste. «Tenho de continuar a acreditar nas minhas ideias. Não acredito em mudanças repentinas ou momentâneas. Quando mudamos as coisas, tudo tem de ser trabalhado. Não prevejo muitas alterações porque é nisto que eu acredito», disse antes do jogo com a Académica.

A verdade é que em Coimbra a equipa mostrou, uma vez mais, que não está a adaptar-se bem à mudança de sistema. Vale a pena ler a análise do Filipe Caetano sobre isso. Embora já tenha defendido aqui a aposta em Josué como sucessor de Moutinho e Quintero a fazer de falso extremo, como acontecia com Hulk ou James, a verdade é que Paulo Fonseca apostou em ambos no passado sábado, mas com outras missões. Quintero não partiu da direita para o espaço entre linhas na zona central, e Josué voltou a jogar muito próximo de Fernando, e não num esquema com um «trinco» e dois médios interiores com adiantamentos diferentes, como acontecia no passado: Moutinho ligeiramente à esquerda e numa posição intermédia; Lucho algo descaído à direita, e um pouco mais adiantado. Como acontece no Sporting, de resto, e também no Benfica quando Jesus recorre a Fejsa ou Rúben Amorim.

Talvez a ideia de Paulo Fonseca é ter uma proteção para cada lateral, sempre que estes sobem no terreno, mas é tal a dependência dos desequilíbrios dos extremos que isso acaba por ser um mau sinal. As outras soluções ofensivas não estão a funcionar.

E embora Paulo Fonseca esteja a ter dificuldades em encontrar soluções, é justo olhar também para as responsabilidades da estrutura. A SAD portista avaliou mal a sucessão de Moutinho, voltou a decidir ter apenas uma alternativa a Jackson (Ghilas até tem estado lesionado), e falta um desequilibrador puro para o último terço.

P.S. (para seguir): o Hamburgo continua algo distante dos lugares cimeiros da Bundesliga, o seu habitat natural, mas continua a lançar jovens muito talentosos. É o caso de Jonathan Tah, o mais jovem de sempre a jogar na equipa principal do clube. Aos 17 anos este defesa central nascido em Hamburgo, mas com raízes na Costa do Marfim, apresenta um físico impressionante. É muito forte nos duelos corpo a corpo, e sobretudo na disputa de bolas pelo ar. Já é titular na equipa orientada por Bert van Marwijk e merece ser seguido com muita atenção.



«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter