Uma corrida contra o tempo. Para Vítor, o médio ofensivo que espalha perfume pelo relvado da Mata Real, não há espaço para hesitações. É agora ou nunca. Está no melhor momento da sua carreira.

«O Vítor tem feito um campeonato espetacular. É um jogador muito influente na nossa equipa, como os próprios colegas reconhecem, e acredito que a jogar desta forma pode ser um jogador para outros voos. Merece isso», garante Paulo Fonseca, o treinador do P. Ferreira.

A idade começa a ser um problema. Na segunda temporada como castor, convence por completo os observadores. Em janeiro, celebra o seu 29º aniversário. Contudo, o prazo ainda não expirou.

«Vou fazer 29 anos, já não sou novo mas também não sou velho. Infelizmente, em Portugal, parece que a partir dos trinta começam a achar que os jogadores perdem qualidade. Sei que se as coisas não acontecerem em breve, ficará bem mais difícil. Mas não penso muito nisso».

A ideia repete-se. Na entrevista ao Maisfutebol, Vítor aposta na simplicidade. Não pensa muito no tempo perdido nos escalões inferiores, no que falhou. Nem no futuro, que não está nas suas mãos. Aceita o destino. No relvado, tudo muda. Cresce, encanta, assume o jogo. É um dos melhores na sua posição.

«Isso não sei, não me consigo comparar com outros, é mais o vosso trabalho. De qualquer forma, sinto que estou no melhor momento da minha carreira.»

O Paços de Ferreira termina 2012 na quarta posição da Liga. Vítor vai acumulando assistências e marca mais que nunca. Cinco golos em dezasseis jogos, entre campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga. A seleção, por exemplo, é uma utopia?

«A seleção é um sonho, mas sei olhar para a realidade e perceber as coisas. Estou no Paços e assim fica muito mais difícil. Se um jogador sai do Paços e mostra valor no Sp. Braga ou no Sporting, por exemplo, já chega à seleção. Mas é o mesmo jogador», frisa o médio.

«As pessoas estão obrigadas a olhar para o Paços»

Vítor encanta, crescendo ao mesmo ritmo que o Paços de Ferreira. Quarto lugar na Liga, vitória convincente na primeira jornada da fase de grupos da Taça da Liga, presença garantida nos quartos-de-final da Taça de Portugal. Castores em grande.

«As pessoas neste momento são obrigadas a olhar para o Paços. Estamos bem em todas as competições. Basta ver que no último jogo, em casa do Rio Ave para a Taça da Liga, o treinador apostou em outros jogadores e venceu (2-3)».

O excelente momento da equipa não apaga a fase conturbada da época passada. Vítor chegou e pegou de estaca, mas sentiu que tinha entrado no pior momento. «Não foi fácil. A minha chegada coincidiu com o pior meia época do Paços. Estava a jogar mas as coisas não saiam bem. Agora, sinto que as críticas são muito positivas e há mais reconhecimento.»

Liberdade para criar. A aposta de Paulo Fonseca, também ele um técnico promissor, potenciou o futebol do médio ofensivo. «É liberdade com responsabilidade, como costumo dizer. Não deixo de defender. Mas nesta altura sinto muita confiança no meu futebol e isso permite-me estar num grande momento».

«Se tivesse oportunidade, não me assustava»

O P. Ferreira reinventou-se após a perda de algumas unidades influentes. No último verão, o Benfica recuperou Melgarejo e contratou outros dois castores: Luisinho e Michel.

Jorge Jesus recebeu Luisinho mas escasseiam as oportunidades. Vítor defende o antigo companheiro. «Tem jogado pouco mas correspondeu quando foi chamado, embora em jogos de menor importância.»

«Em Paços, o Melgarejo era extremo e passou por uma fase difícil no Benfica quando começou como lateral. Mas agora, acaba por ser uma unidade influente na equipa».

E Michel? «Michel não tem jogado». Uma estranha realidade. Dar o salto para ficar na obscuridade. Nada que faça Vítor hesitar, ainda assim. «Se tivesse uma oportunidade do género, não me assustava com isso», remata.