É provável que o leitor discorde, mas é a minha opinião: a opção de Vítor Pereira por um clube na Arábia Saudita não é tão má como poderá parecer à primeira vista. Provavelmente até é boa, se olhada do ponto de vista da carreira e da independência financeira.

Comecemos um pouco antes.

Depois de doze épocas como treinador, Vítor Pereira trabalhou na formação de jogadores e em pequenos clubes portugueses. Esteve perto de conseguir subir de divisão com o Santa Clara. Foi campeão como adjunto e bicampeão como treinador principal. Jogou ao mais alto nível na Liga Europa e na Liga dos Campeões.

Aparentemente, o insucesso consecutivo na Liga dos Campeões tramou Vítor Pereira.

Sem possibilidade de continuar no F.C. Porto, que opções restavam a Vítor Pereira? Estou convencido de que não muitas.

Um clube inglês médio na Premier League? Duvido, é difícil entrar ali.

Um clube de topo em França? Improvável.

Uma equipa média em Espanha? Depois de Mourinho, ali o terreno está minado para os portugueses nas próximas épocas.

Na Alemanha e na Holanda impossível. Em Itália também pouco provável.

Sem entrada imediata em algum clube interessante na Europa que conta, Vítor Pereira poderia esperar por um emblema turco ou grego, daqueles que lutam pelo título e andam na Liga dos Campeões. Ou procurar trabalho num dos novos mercados, México ou Estados Unidos. Mas nem isso era seguro, provavelmente.

Creio, pois, que nesta altura Vítor Pereira teria apenas duas opções reais: esperar, sem trabalhar. Ou esperar, a ganhar muito bem. Escolheu a segunda hipótese. Quem não escolheria?

Nada do que fizer na Arábia Saudita terá peso no currículo de Vítor Pereira, pelo menos aos olhos europeus. No Al-Ahli será muito bem pago e terá oportunidade de perceber o que é trabalhar fora de Portugal. Quando terminar essa aventura valerá exatamente o mesmo no mercado do futebol a sério. Nem mais nem menos. É uma escolha sem danos, sem risco, que lhe garante a independência financeira. Você não iria?