Embora tenha sido a última selecção a garantir a presença no Mundial 2010, o Uruguai conseguiu chegar às meias-finais. O último representante sul-americano conquista assim o estatuto de grande revelação da prova, reconhecido pelo próprio seleccionador.

«Estamos muito contentes com aquilo que temos feito. Nem tanto pelo futebol praticado, que não tem sido brilhante. Nos últimos 40 anos nunca atingimos fases adiantadas do Mundial. Muitos uruguaios nunca viram nada disto, ninguém acreditava. Viemos à festa sem convite», disse Óscar Tabárez, na antevisão da meia-final.

O treinador uruguaio entende que os jogadores da Holanda «vão sentir muito mais a responsabilidade do jogo», mas recusa-se a entregar já a vaga na final. «Se pensarmos nos antecedentes, nem vale a pena jogar. É a Holanda. O resultado não está decidido», começou por dizer. «Não renunciamos a nada antes do jogo. Ninguém sabe o que vai acontecer no jogo. Temos a modesta esperança de fazer o esforço para chegar à final. Sabemos que temos de fazer um jogo perfeito, mas sabemos também que isso é possível», acrescentou depois.

Tabárez sonha com a final, mas não poupa elogios à Holanda , «uma das melhores equipas deste torneio». «Lembro-me de ter falado uma vez com o Rinus Michel, quando trabalhava no gabinete técnico da FIFA, e ele me ter dito que os holandeses só vivem o futebol se for jogado ao ataque. Isto é verdade, embora eles tenham também uma boa defesa, pese embora as críticas que têm surgido.»

Recordar tempos antigos, mas sem tirar os pés do chão

O Uruguai já tem dois títulos mundiais no palmarés, mas ambos conquistados em décadas distantes (1930 e 1950). Nos tempos mais recentes a «celeste» tem andado mais afastada da glória, e por isso o seleccionador considera exagerado dizer que a sua selecção voltou a ser uma potência. «Temos um longo caminho a percorrer, pois o mundo é agora diferente da primeira metade do século XX. A distância entre o primeiro e o terceiro mundo está a crescer, no futebol. Os jogadores saem muito novos. O mundo não mudou por termos ganho alguns jogos. Estamos é a adaptar-nos à nossa realidade.»

O Uruguai chegou a esta meia-final após uma vitória dramática sobre o Gana, nas grandes penalidades. No último minuto do prolongamento a equipa africana beneficiou de uma grande penalidade, mas Asamoah Gyan atirou à barra. Luís Suarez tornou-se um herói nacional, ao evitar um golo com a mão, evitando consequências mais negativas para a sua equipa. Óscar Tabárez encara a situação com normalidade. «É uma acção que está prevista nos regulamentos, e que aconteceu noutros jogos. Aconteceu-nos a nós, inclusive, no Mundial de 1990. Pensar que alguém comete uma falta dessas, instintiva, a pensar no que poderia acontecer depois, parece-me demasiado tendencioso», respondeu o seleccionador uruguaio, sem esconder algum desagrado.