É um caso raro no futebol nacional. Os genes da família Vidigal produzem jogadores em catadupa, como se sabe, com Luís, actualmente na Udinese (Itália), a assumir o papel de porta-estandarte. Mas há mais. Em Porto Santo, por exemplo, dois elementos da família mais badalada do futebol português continuam a dar cartas, embora em posições distintas no tabuleiro de jogo. Lito é o treinador do Portossantense, equipa da II Divisão e quando o ouvir aos berros, em direcção do relvado, a chamar por Toni, saiba que está a falar para outro Vidigal, que só coloca a jogar «se estiver em muito melhor forma que os outros». Uma situação inusitada que motiva, por vezes, episódios curiosos, conforme o técnico confessou ao Maisfutebol. O irmão, por seu turno, lamenta o parentesco: «É mesmo assim, tenho sempre de ser o primeiro, de estar na sempre na frente, de ser melhor, para poder jogar».
Como jogador, a carreira de Lito Vidigal teve como ponto alto a passagem pelo Belenenses. Há dois anos, arrumou as chuteiras, assumiu o comando técnico do «seu» Elvas (a família Vidigal tem raízes na zona) e, na época seguinte, rumou ao Arquipélago da Madeira, onde pegou no Portossantense, então na última posição da II Divisão B, conduzindo-o a um extraordinário 3º lugar. Na presente temporada, a formação insular averbou três vitórias e um desaire em quatro jornadas e Toni Vidigal, que rescindira, na temporada transacta, o contrato com o Varzim, assume-se como uma das figuras da equipa. Toni, devido a salários em atraso no clube nortenho, rescindiu o seu vínculo e rumou a Itália, para representar o Nápoles, mas a despromoção da formação transalpina para a Série C, devido a problemas financeiros, ditou o regressou do jogador a Portugal, em Dezembro de 2004, sem nunca ter realizado qualquer partida oficial. Com o encerramento do período de inscrições, aceitou o convite do irmão e instalou-se em Porto Santo.
Encontro de irmãos, sem direito a cunhas
Apesar do grau de parentesco, o irmão não retira quaisquer benefícios, na hora de preencher a ficha de jogo. Aliás, ao que parece, bem pelo contrário. «Quando o Toni rescindiu com o Varzim, falei com ele e veio para cá, para não estar parado e para ajudar a equipa, mas o facto de ser meu irmão não o beneficia em nada, posso garantir», começa por dizer o técnico Lito, acrescentando: «Não posso tomar as minhas decisões tendo por base os laços familiares. Muitas vezes, ele acaba por pagar por ser meu irmão. Mas claro que, fora do campo, a relação é perfeitamente normal».
«Para o Toni jogar, tem de estar melhor, aliás, muito melhor que os outros jogadores. Em circunstâncias iguais, entre ele e outro jogador, eu opto pelo outro, seja ele quem for. Tem de ser assim, para evitar problemas», garante o treinador do Portossantense, alinhando pelo diapasão do irmão. «Dentro do campo, esquecem-se os laços familiares. Trato-o por mister, como sempre fiz com todos os treinadores. Acho que acabo por pagar por ser seu irmão, mas estou feliz por ter esta oportunidade, porque foi o único dos meus irmãos com quem nunca joguei», lembra o jogador.
Mais Vidigais, não!
Num ponto, Lito e Toni estão de acordo: mais elementos da família Vidigal no Portossantense, não! «Mais Vidigais? Nada disso, nem imaginam o trabalho que dá», diz Lito, entre gargalhadas, satisfeito pelo sucesso dos irmãos, no mundo do futebol. «O Jorge continua no Olhanense, o Beto está a treinar as camadas jovens do Elvas e, claro, o Luís joga na Udinese», lembra. «Penso que o Luís e o Jorge têm condições para jogar num nível superior, portanto não fazia sentido virem. Pode ser que eu os encontre em breve, num clube de maior dimensão», remata Toni.