Ricardo Vaz Tê chegou a Inglaterra há dez anos. Cresceu por lá, caiu uma e outra vez, levantou-se e seguiu em frente. O avançado volta ao radar da seleção com quatro golos em oito jogos, dois deles na Premier League, frente a Tottenham e Manchester City.

Primeiro, contribuiu para uma enorme dor de cabeça de André Villas-Boas. 0-3 para o West Ham frente ao Tottenham. Neste fim-de-semana, não conseguiu impedir a derrota da sua equipa mas marcou num belo pontapé de bicicleta.

Aos 27 anos, Vaz Tê mantém o gosto pelo risco. Sorri com o momento atual, esquecendo um longo calvário de lesões. Em Upton Park, com Javi Garcia bem perto de si, arriscou. Ricardo Vaz Tê é assim, desde sempre.

«Não é o primeiro golo que marco de bicicleta em Inglaterra. Já o tinha feito ao Brighton, mas claro que agora tem outra visibilidade», começa por dizer, em entrevista ao Maisfutebol.

O risco é maior, a dor é bem menor. «São aqueles movimentos que aprendemos na rua, lembro-me de ser criança e tentar imitar jogadores como o Rivaldo a fazer isso. Nessa altura era na rua e doí bem mais ao cair. Felizmente agora é na relva, nem dói.»

«Foi o que tinha de fazer no momento, só conseguiria marcar daquela forma. O Javi Garcia estava em cima de mim e ia tocar na bola se eu demorasse mais um segundo», acrescenta o jogador.

Em janeiro de 2012, Vaz Tê revelava ao Maisfutebol o preocupante diagnóstico clínico. «Tens de parar, nunca mais vais conseguir jogar futebol e só te estás a desgastar. É melhor começares a procurar um emprego.»

Vaz Tê: «Disseram-me para procurar um emprego»

O português levantou-se, uma vez mais. Terminou essa temporada com 24 golos em 48 jogos, entre Barnsley e West Ham. Estava garantido o regresso à Premier League.

«É difícil dizer se este é o meu melhor momento porque há dois anos fiz 24 golos no Championship. Só no final poderei avaliar mas sei que quero manter este registo», salienta.

Na época passada, Ricardo Vaz Tê apresentou números mais modestos, aparentemente. Apenas três tentos, justificados com a mudança de funções. «O treinador da altura decidiu colocar-me a jogar em outras funções. Penso que correu bem porque ficámos nos dez primeiros lugares, posso ter marcado apenas dez golos mas fiz oito assistências, joguei sobretudo para o coletivo. Hoje posso dizer que estou confortável jogando nessa posição. Tive um master como extremo, por assim dizer.»

«Sei que posso ser ainda melhor, não posso dizer que estou na minha melhor forma física. Mesmo assim, as pessoas vão ter sempre algo a dizer», admite o português, confrontado com ininterruptas dúvidas sobre a sua capacidade para voltar a jogar ao mais alto nível.

«A seleção é um sonho mas apenas isso»

Após dois golos na Taça da Liga inglesa, Ricardo Vaz Tê começou por surpreender André Villas-Boas. A 6 de outubro, o Tottenham corou de vergonha frente ao West Ham. 0-3 em casa, com português a marcar.

«Falámos um pouco no jogo, o André Villas-Boas deu-me os parabéns pelo golo e desejou-me boa sorte para o futuro. Eu desejo-lhe o mesmo e acho que vai fazer uma bela época, o Tottenham tem uma boa equipa», explica o avançado.

Seguiu-se o Manchester City, no dia 19, e mais um tento. Vaz Tê está inspirado. Em Portugal, volta-se a ouvir o seu nome para a seleção nacional.

Ele sorri, apenas. «Não penso muito na seleção mas sim em ajudar o West Ham. Os meus números são bons mas também sei que há muito talento para o selecionador escolher.»

«É um objetivo, um sonho, mas apenas isso. Quanto acontecer, assim será, e irei com o maior orgulho do mundo. Espero manter estes números e ir melhorando, se possível», acrescenta.

«Ravel Morrison é o maior talento com quem já joguei»

Ricardo Vaz Tê aceitou falar ainda sobre Ravel Morrison, seu companheiro de equipa no West Ham. O Maisfutebol já apresentou o perfil de um talento problemático que vai encantando os ingleses.

Ravel Morrison, o talento que fugiu ao crime

«O Ravel Morrison é um miúdo fantástico e posso dizer que é um dos maiores, ou mesmo o maior, talento com quem já joguei. Agora, cabe a ele evoluir e continuar a aprender», salienta o português.

O médio ofensivo tenta apagar a imagem de um jovem sem capacidade para fugir ao crime. «Senta-se ao meu lado no balneário e claro que todos tentámos dar conselhos, ajudar. Ele vem de um meio difícil, muitas vezes são as pessoas à nossa volta que nos fazem cometer erros. Mas agora está focado no seu jogo e, como número 10, é fantástico.»

«Se fosse português ou brasileiro, a sua qualidade técnica era normal, mas como inglês torna-se um jogador distinto», remata Vaz Tê, em jeito de brincadeira.