Um grito de «Beléééééém», longo, entoado por um dos adeptos dos azuis que se deslocaram ao Bonfim. Ouviu-se bem no estádio, onde a equipa do Belenenses largou o último lugar da Liga, com uma reviravolta frente ao Vitória. Os lisboetas já tinham a descida confirmada, mas sobem a penúltimo, na despedida de 2009/10. E como o povo tem memória, e tem na boca uma possível batalha (Naval), aquele berro bem pode ser tão longo como mais um defeso no futebol português. Não seria situação virgem no Restelo. Descer em campo, manter-se na secretaria. Haverá duas sem três?

Para já, o golo de André Almeida apenas define o último posto do Leixões e faz subir um pouco a dignidade de uma equipa que lutou durante uma época inteira com problemas próprios, contra orçamentos superiores, que teve dois técnicos e que andou, mais uma vez distante do feitos do passado. Esses sim, é que estão longínquos, muito mais longe do que qualquer possibilidade de manutenção.

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Ainda mal o jogo nascera já o Vitória gritava golo. Uma grande penalidade de Marcos António levou Kazmierczak à marca de onze metros. O pé esquerdo do polaco fez o resto, com Bruno Vale a adivinhar o lado, mas impotente para chegar à bola. O 1-0 reflectia pouco do jogo, mas muito das posições entre sadinos e belenenses. O Vitória fica na Liga, os lisboetas vão tentar regressar (ficar?) à mesma. Com início destes, o destino de último classificado parecia atribuído, mesmo que estivessem decorridos apenas seis minutos.

Um golo madrugador, por vezes, é bom para o jogo. Desta vez até nem foi excepção, apesar da pouca qualidade. O Belenenses reagiu e por duas vezes podia ter feito o empate, ainda antes dos 20 minutos. Mas quer Celestino quer Barge repetiram um gesto tantas vezes visto no Belém nesta época e atiraram as ocasiões para trás da baliza adversária.

Enquanto Neca tentava dar uma ideia ao futebol sadino, Miguelito lutava com o que tinha para levar os lisboetas para a frente. Mas o melhor que tinha, o pé esquerdo, fazia o mesmo que os colegas, ou seja, mandava para fora a igualdade. Assim, com mais ninguém a colorir o marcador de um jogo pobre, chegou o intervalo.

E não é que viraram o jogo?

O treinador do Belenenses quis mudar para o segundo tempo. Tirou um médio, Celestino, e meteu Romário. O 4x3x3 mantinha-se, tal como Miguelito se evidenciava dos restantes futebolistas de azul. Lima era uma sombra que só apareceria mais tarde.

Henrique vira, de um lado do campo, três adversários atirarem para fora ocasiões de golo; de tanto ter observado, fez o mesmo, numa bela jogada com Hélder Barbosa. Por esta altura, o Belenenses parecia resignado com o resultado. Pelo menos, não demonstrava ter grande capacidade para o mudar. Só que aí, vieram as substituições. As do Vitória até foram protagonistas primeiro: Brigues fez bem o lugar de lateral-direito, Lourenço tinha o golo no pé, mas¿saiu ao lado.

Até que, quando nada o fazia prever, o Belenenses empata. Numa bola parada, em que o estreante Matos começou por defender uma cabeçada de Lima (até que enfim no jogo), mas não teve reacção para a recarga de Romário. A igualdade estava feita e, com ouvidos em Matosinhos, onde o Leixões perdia com o Sporting, os lisboetas acreditaram no triunfo e, minutos depois, conseguiram-no. André Almeida recebeu passe de Lima e disparou o Belenenses para o penúltimo lugar. Despedida da Liga ou salvação? O tempo o dirá, o futebol português também.