McCarthy não ficou bem na fotografia. Em situações de confronto raramente o jogador consegue impor a sua razão aos motivos da entidade patronal. Com Benni, a história não deverá ser diferente, ainda que neste momento não seja possível prever as repercussões de um «conflito» de opiniões com o seu presidente, Pinto da Costa.
Deverá explicar-se, no entanto, que nem sempre o atleta é o culpado, embora Benni não tenha sido muito prudente nas palavras que proferiu, ou melhor, no tom que usou para explicar o seu descontentamento. Disse que já pensava como seria a sua vida em Liverpool, depois de ter assinado pelo Everton. Cumpria o sonho de menino de jogar em Inglaterra e partia com esperança renovada, pois seria apontado como o sucessor de Wayne Rooney. A médio prazo, caso vingasse, até poderia ser um bom negócio para os dragões, pois se há país que tem dinheiro é Inglaterra.
Como gerir um jogador a quem foi dito na segunda-feira que iria ser emprestado, porque tinha sido contratado outro avançado? Aliás, esta não foi a primeira vez que McCarthy viu a porta de saída entreaberta, pois já em Fevereiro, altura em que foi apanhado na noite de Vigo, foi informado que deveria procurar outras paragens no final da temporada (entretanto Benni foi o melhor marcador da Superliga e tudo mudou).
A verdade dos factos é que o Bota de Ouro da época passada (o Porto não tinha um desde 00/01, Pena) já ouviu mais do que uma vez que ia ser dispensado, mas tal nunca se concretizou. Desta vez terá mesmo ficado convencido que não iria regressar ao Dragão e tal comportamento não é estranho, até porque, segundo fontes em Inglaterra, McCarthy foi informado na segunda-feira que iria ser emprestado ao Lyon; mais tarde o Everton fez uma proposta por escrito que cobria os valores franceses, com o pagamento do salário na totalidade; na terça-feira, quando já se dirigia para o consulado britânico em Pretória (África do Sul), o jogador foi informado que o negócio tinha sido cancelado...
Aos 26 anos, Benni tem um historial de problemas que não ajudam a garantir estabilidade emocional. Estrela nacional aos 20 anos, passou rapidamente da euforia (Ajax) à frustração no Celta de Vigo, onde foi impedido de jogar durante praticamente dois anos. Renascido no F.C. Porto, foi apelidado de salvador, ajudou a equipa a ser campeã nacional e europeia, mas o abismo voltou a aproximar-se. No início de mais uma época paira a ameaça de novo calvário. Ninguém o deseja, mas poderá acontecer.