O leitor vai certamente desculpar-nos por iniciarmos uma crónica de um jogo de futebol por algo que o transcende.

Mais do que o V. Setúbal-Sp. Braga, partida que teve momentos agradáveis, quem esteve no Bonfim saiu de lá com Nuno Pinto no pensamento. O jogador de 32 anos, que já venceu inúmeras batalhas com extremos virtuosos que lhe foram surgindo por aquele corredor esquerdo, trava agora a mais importante de todas elas, depois de lhe ter sido diagnosticado um linfoma que o obrigou a deixar a carreira em suspenso.

Aos 21 minutos, o Bonfim prestou-lhe uma homenagem arrepiante. O futebol, tantas vezes incitador de divisão e gerador de ódios, juntou adeptos do Vitória e do Sp. Braga para uma gigante mensagem de apoio a Nuno Pinto.

Lito Vidigal e Abel Ferreira promoveram, respetivamente, três alterações em comparação com a 13.ª jornada da Liga.

FILME E FICHA DE JOGO

Longe de ter sido imaculadamente bem jogado, o V. Setúbal-Sp. Braga foi um jogo emotivo, com oportunidades de parte a parte, erros primários, um penálti a esbarrar na trave perto do minuto 90 e o Sp. Braga a arrancar o triunfo reduzido a dez já no prolongamento.

Ainda que sem a exuberância já evidenciada nesta época, o conjunto minhoto entrou melhor, com duas tentativas perigosas (Paulinho e Fransérgio) nos primeiros 15 minutos.

Inicialmente preocupada com os equilíbrios, a equipa da casa foi-se libertando gradualmente. Com transições rápidas muitas vezes alimentadas por derivações do venezuelano Cádiz para os flancos, o Vitória mostrou-se aos 21 minutos, num lance em que Mikel atirou de cabeça para defesa atenta de Marafona, e aos 38 minutos Cádiz falhou a melhor ocasião dos primeiros 45 minutos.

Na segunda parte, o equilíbrio manteve-se, mas com o conjunto de Lito Vidigal a pôr em sentido os visitantes, sobretudo em lances de bola paradas e contra-ataques.

Pouco depois de um susto provocado por Mendy em mais um ataque rápido dos sadinos, Abel Ferreira fez duas substituições de uma assentada: lançou João Novais e Wilson Eduardo para os lugares de Esgaio e Horta e os arsenalistas cresceram. Wilson Eduardo ameaçou o golo aos 80 minutos Dyego Sousa teve o match point no pé direito de penálti

Luís Godinho apontou para a marca dos onze metros na sequência de uma falta de Dankler sobre Palhinha, mas o avançado brasileiro, que vinha de um hat-trick ao Feirense, atirou à barra.

Os adeptos sadinos respiravam de alívio e agradeciam aos céus a segunda vida que (ainda que merecida) tinha sido concedida à equipa de Lito Vidigal, que parecia destinada a ser feliz depois de novo golpe para os minhotos, reduzidos a dez ainda antes dos 90m por expulsão de Raúl Silva.

Já em tempo de compensação, Marafona evitou a festa sadina com uma defesa soberba a remate de Cádiz.

Os milagres viajavam de baliza a baliza e o prolongamento era, por isso, um destino adequado a dar ao jogo.

Pablo Santos foi lançado para a meia hora final, numa espécie de make up para juntar os cacos na defesa arsenalista. Mas o central brasileiro cumpriu essa e outra missão: despedaçou o coração dos sadinos. Aos 96 minutos desviou de cabeça para o fundo das redes de Cristiano um canto batido por João Novais.

Reduzido a dez, o Sp. Braga cerrava os dentes para o assalto final da equipa da casa. O Vitória teve alma mas faltou-lhe, naturalmente, serenidade.

Os arsenalistas continuam na rota do Jamor.