Em 192 minutos, Steven Defour silencia os cépticos. Assistência de luxo para golo de Varela em Leiria, rotação altíssima frente ao V. Setúbal, trabalho incansável na estreia da Liga dos Campeões contra o Shakhtar. Três jogos e uma nova ordem a despontar no meio-campo do F.C. Porto.

A figura do belga embeleza o carrossel mágico idealizado por Vitor Pereira. Confortável em qualquer uma das funções previstas na zona intermediária, Defour pode, de resto, ajudar a eliminar a figura do trinco/médio defensivo. Pelo menos em parte dos jogos a realizar no Estádio do Dragão para o campeonato.

Nasce uma relação prometedora, harmoniosa, entre clube e jogador. Aos 23 anos, Defour está preparado para um compromisso de «longa duração». «É um homem feliz no Porto. A equipa ganha, o valor dele é reconhecido e tenho a certeza que será assim muitos anos», diz ao Maisfutebol Costa Mbisdikis, sogro de Defour e seu antigo treinador no Genk.

«Ele diz-me que no F.C. Porto se pode concentrar exclusivamente no jogo. Não tem preocupações de outro tipo. Isso faz toda a diferença», acrescenta.

«Era um excelente número dez nas camadas jovens. Foi para o Standard e tornou-se um seis muito competitivo. Tinha qualquer coisa que o diferenciava. Colocava o coração em todas as acções, corria, corria, corria e tratava a bola com uma delicadeza própria dos latinos. Talvez tivesse a ver com os sacrifícios familiares que fazia.»

Dragão «pop star» com asas

Steven Defour habitua-se a desenrascar sozinho desde muito cedo. Quando troca o familiar Zennester Hombeek pelo Malines, aos nove anos, passa a dormir fora de casa. Tudo em nome da ambição.

«Sempre sonhou com o estrelato no futebol. Era um menino e dormia nas instalações do clube. Ia a casa dos pais uma vez por semana só. Foi para o Genk com 14 anos e passou a partilhar um apartamento com quatro colegas de equipa. Estas privações ensinaram-no a ser paciente, a esperar, a saber sofrer», conta Costa Mbisdikis.

É este tipo de jogador que Rolão Preto conhece no Standard Liège. O assistente de Laszlo Boloni, agora no PAOK, trabalha entre 2008 e 2010 com Defour. «Era determinante na nossa estratégia. Possui uma inteligência táctica fabulosa e é um excelente recuperador de bolas, incansável. Tinha uma influência igualmente decisiva a defender e a atacar, pois tecnicamente é muito evoluído.»

Na temporada 2006/07, Areias partilha o balneário com Defour em Liège. As memórias são frescas. «Não falhava um passe. Isso era o que mais impressionava. Quando soube que o Rúben Micael ia sair e que vinha o Steven, pensei logo que o F.C. Porto acertara em cheio», sublinha o antigo lateral esquerdo dos dragões.

O currículo certifica a qualidade de Steven Defour. Aos 16 anos estreia-se na primeira divisão belga, aos 18 chega à selecção A da Bélgica, aos 19 torna-se capitão do Standard e conquista a Bota de Ouro [prémio para o melhor jogador do campeonato]. Como se explica esta precoce afirmação, esta capacidade de antecipar prazos e rasgar convenções?

«Tem qualidade e inteligência acima da média», explica Costa Mbisdikis. «É uma pessoa tranquila. Quando o conheci era mesmo silencioso, recatado, agora já se abre mais. Pensa muito no futebol e isso é decisivo.»

«Era um dos capitães e reunia com a equipa técnica. Sabia bem o que queria. Sem ser uma pessoa exuberante, comunicava com facilidade», acrescenta Rolão Preto. Areias concorda. «Não é fácil conquistá-lo. Quando gosta de alguém, torna-se muito afável. Viu-me no Dragão, durante o jogo com o Gil Vicente, e fez-me uma grande festa.»



Steven Defour, Bota de Ouro em 2007: