Algo se passa com esta equipa que teima em gastar o final de tarde dos fins de semana em casa, arrastando-se no sofá, numa melancolia que só lhe deixa a vida mais difícil.
Depois da torrente de bom futebol na última quarta-feira, numa daquelas noites cheias que deixam o corpo feliz e revigoram a alma, é angustiante perceber como a formação de Marco Silva desperdiçou mais uma oportunidade para se reencontrar com a euforia.
Desperdiçou também uma oportunidade de ajustar contas com a classificação. Não o fez, e acaba aliás a jornada uma posição mais abaixo: agora num sétimo lugar que é cada vez mais embaraçoso.
Ora tudo isto seria muito evitável se o Sporting não tivesse desperdiçado os primeiros quarenta e cinco minutos.
Convém dizer desde já que não vai faltar quem culpe o árbitro: Bruno Esteves falhou realmente, falhou sobretudo ao anular um golo limpo a Montero aos 86 minutos. Tudo isso é verdade, sim senhor. Mas não muda o essencial.
Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores
E o essencial é que o Sporting falhou: tanto ou mais do que o árbitro. Deixou que o P. Ferreira fosse melhor na primeira parte e já não foi a tempo de corrigir o destino.
Estava avisado para o que vale esta equipa do P. Ferreira - um adversário que chegou a Alvalade em quarto lugar, sem perder há dois meses e meio e até conta com cinco vitórias nos últimos seis jogos -, e mesmo assim falhou.
Negligenciou esse sinal, entrou no jogo lento e apagado. Saiu para o intervalo, de resto, com apenas dois remates feitos e ambos de perigo relativo: João Mário atirou de longe para boa defesa de Rafael Defendi e Carrillo finalizou de ângulo apertado à figura do guarda-redes.
O resto foram perdas de bola, muita lentidão e uma incapacidade total de criar desequilíbrios.
O P. Ferreira, esse, é uma equipa admirável, outra vez. Capaz de defender bem, ocupando os espaços com enorme inteligência, mas capaz sobretudo de sair com muitos homens e sempre num futebol apoiado.
Marcou num grande golo, após uma jogada de posse de bola enorme, que foi à frente, voltou para trás, desviou-se para o centro, até que Minhoca descobriu Hurtado e lhe meteu a bola para uma finalização fácil na cara de Rui Patrício.
O Sporting durante toda a jogada só correu atrás da bola.
Na equipa do P. Ferreira é necessário destacar de resto um jogador: Jean Seri. O costa-marfinense foi enorme, inteligente, disponível. Esteve sempre onde era a preciso a estancar o futebol do Sporting e a dar tempo aos companheiros para recuar. Passou muito por aí a excelente primeira parte pacense.
Destaques: Montero e Carlos Mané entraram para mudar o jogo
É claro que na segunda parte tudo mudou e mudou sobretudo porque Marco Silva fez questão de o estimular através de uma dupla alteração ao intervalo: William e Carrillo deram lugar a Montero e Mané.
O Sporting passou então a jogar num claro 4x4x2 e sobretudo teve velocidade. Mané trouxe rapidez de execução e irrequietude, Montero marcou um grande golo da primeira vez que tocou na bola.
O jogo de repente ficou relançado e absolutamente elétrico.
A formação de Marco Silva estava então por cima e durante toda a segunda parte fartou-se de carregar sobre o adversário. O Paços encolheu-se, encolheu-se, encolheu-se até quase desaparecer.
As oportunidades, essas, surgiram apenas nos vinte minutos finais mas em número suficiente para provocar outro resultado: Nani, Capel, Montero e duas vezes Slimani ficaram a um triz de marcar
As referidas oportunidades surgiram também numa altura em que o P. Ferreira ficou reduzido a dez jogadores por expulsão justa de Sérgio Oliveira: duas faltas no espaço de dez minutos. A partir daí, claro, a pressão leonina chegou a ser asfixiante para o Paços.
Mas esse segundo golo não apareceu e o Sporting perdeu mais dois pontos na Liga. No fim de contas, e pelo que já se disse atrás, tem de culpar-se apenas a ele próprio.
E já agora sair mais cedo do sofá nas tardes de fim de semana: em Coimbra, em Guimarães ou em Lisboa.
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