O que fica do dérbi? Um Benfica líder isolado. Não o Benfica que ainda avançava inseguro nos primeiros tempos de Rui Vitória, mas um Benfica mais consolidado e sobretudo a sentir-se confortável com as ideias do seu treinador.

A Vitória o que é de Vitória.

O treinador, esse, também já não é bem o mesmo. Estabilizou, já se atira para fora de pé menos vezes, como foram fezadas como as de Clésio, e conseguiu encontrar um onze-base e o seu modelo, que se vai afastando lentamente do implementado do seu antecessor. Soube encontrar Pizzi como solução a falso-extremo, equilibrando o meio-campo, teve razão quando apostou em Renato Sanches – que também ele vai crescer com o tempo, somando jogos menos bons (como o dérbi) e outros de maior rotação –, resistiu às muitas lesões e as coisas têm-lhe corrido bem.

Soube igualmente não se precipitar com os regressos pós-lesão de Salvio, Nélson Semedo e até com a contratação de Grimaldo. Pizzi, André Almeida e até mesmo o patinho-feio Eliseu mantêm a sua confiança (e reforçam a deles).

Algo que se nota também é que Rui Vitória tem sido apoio importante para os jovens, que não tremem com ele por perto. Semedo, Lindelöf, Renato, Gonçalo Guedes e até Ederson, lançado este sábado literalmente aos leões, sentem estabilidade suficiente para jogar o seu jogo, e a equipa beneficia com isto. Mérito seu, claro.

O treinador colhe trunfos também na forma como conseguiu manter a equipa à tona nos tempos menos bons, motivando-a para jogos tão importantes como a vitória em Braga – talvez a mais importante na mudança de rumo – e recuperando-a depois de desaires como os da Luz frente ao Sporting, e mais recentemente, FC Porto, e também do empate cinzento com o União da Madeira.

Também Rui Vitória cresceu nas salas de imprensa, e mostra-se mais seguro nos contra-ataques a Jesus, alternando esses picos de intensidade com algumas banalidades e lugares-comuns recorrentes. Tem conseguido ganhar pontos também aí.

O futebol é o momento. Se Jorge Jesus teve os rivais na mão até aqui – porque teve-os –, a verdade é que poderá ter perdido para já o controlo. No FC Porto, já não mora Lopetegui, e Rui Vitória soube beber de todas as derrotas até transformá-las num triunfo que se pode revelar fundamental.

O Benfica foi sempre aproximando-se do rival até vencer agora. Basta lembrar que na visita a Alvalade, na Taça, voltou a começar a vencer e levou a decisão para prolongamento. Isso não se fez sem alguma felicidade, claro, mas fez-se.

O jogo era de pressão evidente para os encarnados, que podiam ficar a quatro pontos do grande rival, mas mesmo assim um pouco menor se os leões tivessem vencido em Guimarães. O empate ajudou a desanuviar um pouco o cenário para os homens de Rui Vitória.

Faltam nove jornadas, o campeonato está ao rubro e muitos pontos podem ser perdidos ainda. Foi importante para o Benfica recuperar os pontos perdidos frente ao FC Porto agora em Alvalade, e sair de lá na frente. Ao sair com a vitória sai também mais forte do estádio do rival do que quando lá entrou.

Falta tudo o resto, jogo a jogo, e não é pouco.

Ainda sem o Tondela-Arouca ter-se realizado, destaque ainda para o fantástico trabalho de Lito Vidigal, confirmando o rótulo de qualidade que lhe foi colocado há algumas épocas, levando os arouquenses aos lugares europeus. Perto do Rio Ave, que com Pedro Martins, tem mantido a fiabilidade dos últimos tempos, e ligeiramente acima do Vitória de Guimarães, revitalizado por Sérgio Conceição, depois de um início mais débil.

É de elogiar, também antes do exame de alto grau de dificuldade frente ao FC Porto, o futebol de excelência praticado pelo Sporting de Braga de um Paulo Fonseca novamente a apontar para voos mais altos.  

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».