14 milhões de euros, livres de impostos. A informação sobre o salário de Zlatan Ibrahimovic no Paris Saint-Germain tornou-se assunto de Estado em França. Do presidente François Hollande ao ministro das finanças, os políticos insurgiram-se contra aquilo que chamam valores «indecentes», mais ainda num contexto de crise. Irá o avançado sueco contratado ao Milan ser usado como exemplo da medida política que é bandeira de Hollande, o imposto de 75 por cento para quem ganha mais de um milhão de euros por ano?
Dificilmente, parece ser a resposta. Já lá vamos. Seja como for, o debate está lançado desde que veio a público o valor que Ibra iria receber no contrato agora assinado com o PSG, depois de ter deixado o Milan. Foi noticiado pelos jornais e não confirmado pelo clube, como nunca são confirmados pelos clubes estes valores. O sueco tornar-se-á assim o terceiro jogador mais bem pago do mundo, a seguir a Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.
«São valores indecentes numa altura em que no mundo inteiro todos temos de fazer esforços, conhecer as consequências terríveis de uma crise que a financeirização do mundo da economia provocou. Essa mesma financeirização parece estar a ter cada vez mais influência no futebol», afirmou Jérome Cahuzac, ministro francês do Orçamento: «Podemos recear consequências desastrosas, porque sabemos que muitos clubes, nomeadamente na Europa do sul, estão endividados para lá do razoável.»
Antes, François Hollande tinha comentado o assunto também em tom reprovador, mas menos crítico. «Há regras fiscais sobre salários mirabolantes e aplicar-se-ão em todo o lado, mesmo nos clubes. Além disso o Montpellier, que não tem o maior orçamento da Liga, foi campeão de França», observou o presidente recém-eleito, que no entanto tinha deixado durante a campanha eleitoral a ideia de que os desportistas podiam ter algumas facilidades fiscais, respondendo à pressão do futebol de que um regime tão exigente representaria a fuga de talentos de França.
A porta-voz do Governo, Najat Vallaud-Belkacem, também não deu uma resposta muito clara. «Não há razão para que os desportistas escapem ao novo imposto de 75 por cento. O rendimento do jogador em causa chocou muita gente e parece-me natural que possa contribuir para o esforço coletivo», afirmou ao Nouver Observateur, para depois admitir que «a questão não está totalmente regulada, mas em todo o caso os futebolistas participarão no esforço coletivo.»
O caso tem várias nuances. O «livre de impostos», para começar, uma informação avançada pelo jornal L¿Équipe. A informação gerou enorme confusão. Queria dizer que a Qatar Sports Investment, dona do clube, lhe ia pagar à volta de 80 milhões, para ele ficar com os tais 14? Mais uma vez não há explicações oficiais. O presidente do PSG, Nasser Al Khelaifi, limtou-se a afirmar que o clube «vai respeitar as leis francesas».
Isso pode querer dizer várias coisas. O jornal «Le Monde» fez um artigo com diferentes cenários possíveis para Ibra escapar aos 75 por cento de imposto. Vão de uma medida mais radical, fazer o pagamento do salário através de um país estrangeiro, à hipótese de Ibra beneficiar de não ter sido nos últimos anos residente em França, e por isso ter um regime excecional que limita o imposto a 30 por cento.
Além do momento político em que surge, o assunto levanta também questões sobre os clubes, numa altura em que a UEFA está a aplicar o modelo de fair play financeiro que tem como princípio geral a ideia de que os clubes não devem gastar mais do que ganham. É nesse sentido que vai a opinião da ministra dos desportos francesa, que defende um teto salarial no futebol. «Se não aplicamos este fair play financeiro, ou seja, uma regulação no sentido de um plafond para a massa salarial, vamos assistir a este tipo de situações e a estes salários mirabolantes», disse.