Três Clássicos, três finais felizes para Rolando, três histórias do defesa do Inter de Milão narradas na primeira pessoa em exclusivo ao Maisfutebol: começa tudo na estreia de dragão ao peito (30 de agosto de 2008), passa por um título festejado às escuras e com direito a rega (3 de abril de 2011) e acaba na mais épica das reviravoltas (17 dias mais tarde).

«Tenho grandes memórias. A estreia, claro, mas a reviravolta na Taça de Portugal, em 2011, é inesquecível. Ninguém, além de nós, esperava uma coisa daquelas. E o jogo do título, do apagão, ficará marcado na memória dos portistas», diz Rolando.

Vamos ao início de tudo. Rolando chegara ao Dragão semanas antes, do Belenenses. Bruno Alves e Pedro Emanuel tinham sido as escolhas de Jesualdo nos dois primeiros jogos oficias da temporada. Para a Luz, o treinador decide inovar.



«Dois dias antes do Clássico, o Jesualdo Ferreira chamou-me. A mim e ao Fernando. Perguntou-nos: como é, estão preparados para jogar na Luz?», conta Rolando, a partir de Milão.

«Lembro-me perfeitamente da minha resposta. Mister, se eu jogava no Belenenses contra o Benfica e saía-me bem, no FC Porto vai ser tudo muito mais fácil. Empatámos 1-1 e acho que eu e o Fernando fizemos um excelente jogo. Foi o início de duas histórias muito bonitas».

Lucho Gonzalez marcou de penalty aos dez minutos, Cardozo empatou aos 58, Rolando só saiu da equipa titular na penúltima jornada do campeonato. O FC Porto acabou campeão, quatro pontos à frente do Sporting e 11 do Benfica.

AVB: «Se confiam em mim, façam o que vos digo e ganhamos»

Ano de 2011, mês de abril, efeito Villas-Boas a arrasar o Estádio da Luz e a dar a volta duas vezes a Jorge Jesus. Rolando esteve no eixo da defesa do FC Porto e nas vitórias no Clássico.

Primeiro para o campeonato:

«Eu e o João Moutinho estávamos no estágio e recebemos uma mensagem do Carlos Martins: este jogo de hoje é impossível vocês ganharem. Em nossa casa vocês não vão fazer a festa», recorda Rolando.

«Eu e o Moutinho virámo-nos um para o outro e ele disse-me. No final do jogo falamos com ele. E rimo-nos. Bem, acabámos por não falar porque o Carlos estava tristíssimo, arrasado. Eu e o João preferimos não lhe dizer nada».

Depois para a taça:

«Tínhamos perdido 0-2 em casa e na Luz ao intervalo continuava 0-0», refere Rolando, como se revivesse tudo de trás para a frente.

«Todos os jogadores estavam preocupados no balneário. Era normal. De repente, entra o mister Villas-Boas e diz-nos: malta, quero todos tranquilos. Vamos colocar a nossa linha defensiva na linha do meio-campo, pressionar muito e fazer o primeiro golo, o segundo e o terceiro».

Tudo parecia simples. Pelo menos na convicção e nas palavras de Villas-Boas.

« Se vocês confiam em mim, façam o que eu vos digo e ganhamos. Olhámos uns para os outros e um colega disse ao Villas-Boas que, se calhar, ter a linha de defesa tão subida era arriscado».

« Vocês já fizeram isso mais do que uma vez. Encurtem o espaço na frente, estiquem atrás. Se o primeiro golo aparecer, eles tremem. Tranquilos, ganharemos por três e vamos ao Jamor», replicou o antigo treinador do FC Porto.

Assim foi. «Depois de marcarmos o primeiro, sentimos todos que aquilo ia mesmo acontecer. E aconteceu. Só mesmo o golo do Benfica, de penalty, não estava nos planos. O Villas-Boas nestes jogos psicológicos é mestre».

No total, Rolando jogou seis Clássicos no Estádio da Luz. Além destes três, somou mais uma vitória e duas derrotas. De Milão não perde de vista « o melhor jogo do campeonato português».

«Quando sai o calendário, os adeptos e os próprios jogadores vão logo à procura das datas dos duelos entre FC Porto e Benfica. Há uma carga emocional elevada, um ambiente espetacular. Tudo isto exalta o melhor de cada um dos jogadores».