O tempo já apagou parte das memórias e pode causar espanto que Mlynarczyk tenha sido preterido nas duas primeiras eliminatórias que levaram o F.C. Porto à final de Viena, em 1987. Mas é verdade. O guarda-redes internacional polaco falhou as rondas com o Rabat Ajax e o Vitkovice e só na segunda mão dos quartos-de-final, frente ao Brondby (1-1), na Dinamarca, conquistou a titularidade, relegando o concorrente Zé Beto para o banco de suplentes.
Curiosamente, o experiente guarda-redes esteve para não participar naquele jogo, hoje considerado épico pela forma como defendeu os sucessivos remates do adversário, ao ponto de ter sido apontado como um dos melhores em campo.
Esta história começa com uma lesão. «Fracturei a mão esquerda e estive muito tempo parado», recorda-se, ao Maisfutebol, Mlynarczyk, 51 anos, proprietário de uma empresa de transportes no seu país natal. O regresso aos relvados tinha de ser bem preparado, mas a importância daquele desafio obrigava-o a uma recuperação milagrosa porque o 1-0 averbado nas Antas (golo de Madjer) não dava muita segurança. A equipa técnica pensou na sua utilização, mas o médico do clube desautorizou tal ideia. «O dr. Domingos Gomes dizia que se jogasse poderia agravar a lesão, mas o Artur Jorge falou comigo e perguntou-me como me sentia. Respondi-lhe que pelo F.C. Porto fazia tudo». E assim foi.
Contra a indicação médica, o experiente guarda-redes começou a treinar na semana que antecedeu o jogo com o Brondby, na Dinamarca, disputado a 18 de Março de 1987. «Nos treinos defendia remates do Octávio. Muito devagar para não me magoar na mão esquerda». Mas não participava nas peladinhas. «Corria, fazia alongamentos e ginástica, só isso», enquanto os colegas trocavam a bola. Até que chegou o grande dia e o internacional polaco correspondeu da melhor forma possível e sem um treino de exigência elevada nas mãos. «Tive muito trabalho durante o jogo. Fiz três ou quatro defesas espectaculares, estive muito seguro, caso contrário poderíamos ter perdido o jogo». É verdade. Só aos 74 minutos, o F.C. Porto empatou, por Juary, um golo que garantiu a passagem às meias-finais da Taça dos Campeões Europeus. Mas se não fossem das defesas de Mlynarczyk...