Uma quarta-feira de muito futebol tornou-nos testemunhas da noite em que Hernâni inaugurou, de bicicleta e chapelada, uma ciclovia de ligação direta entre Guimarães e o Jamor. Com a segunda mão por jogar, daqui a um mês, será demasiado cedo para projetar outra final de Taça entre Benfica e V. Guimarães, reeditando o sucedido em 2013?
Talvez, mas o registo histórico ajuda a dar a medida das coisas: desde que as meias-finais da Taça de Portugal voltaram a ser decididas em duas mãos (em 2009), apenas por uma vez a vantagem de dois golos ou mais, no primeiro jogo, não foi suficiente para garantir a passagem. Aconteceu em 2011, quando o Benfica, de Jorge Jesus, venceu no Dragão (0-2) o FC Porto, de André Villas-Boas, para ser derrotado no segundo jogo, na Luz (1-3).
Essa foi também a única ocasião em que uma equipa começou por vencer fora – como aconteceu na terça-feira ao Benfica, na Amoreira – e ficou pelo caminho. Assim, por razões diferentes, Desp. Chaves e Estoril terão de dar a volta aos seus adversários e também ao peso da História para conseguirem evitar aquele que já era o desfecho mais esperado das meias-finais, mesmo antes de a bola começar a rolar.
O jogo de Guimarães ficou ainda marcado por um momento polémico, protagonizado pela equipa de arbitragem de Bruno Esteves: aos 27 minutos, assinalou grande penalidade contra o V. Guimarães por pretensa mão na bola de Pedrão. O defesa brasileiro, indignado, mostrava a camisola a quem passava por perto, proclamando que a bola lhe tinha batido no tronco. No minuto de confusão que se seguiu e, por indicação de um membro da sua equipa, Bruno Esteves voltou atrás e anulou a decisão. Decidiu bem, apesar da suspeita – manifestada de imediato por jogadores e responsáveis do Desp. Chaves - de que a indicação poderia ter sido influenciada pelo recurso a imagens televisivas, no que seria um vislumbre do futuro próximo. Seja como for, este foi um caso em que se escreveu direito, com ou sem linhas tortas.
Bis de Ronaldo e adeus anunciado de Luis Enrique
Enquanto isso, em Espanha, a luta pelo título conheceu um golpe de teatro, com o Real Madrid a confirmar que os jogos domésticos a meio da semana não lhe caem bem. Uma semana depois da derrota em Valencia, a equipa de Zidane marcou passo, em casa, diante do Las Palmas. E ainda valeu o fator CR7, autor de um bis nos minutos finais (o seu primeiro em 2017), para evitar que o tropeção fosse maior: aos 86 minutos, o Las Palmas vencia por 1-3 e tinha um homem a mais, por expulsão de um descontrolado Gareth Bale.
Adivinhava-se a primeira derrota caseira do Real para a Liga, em mais de um ano – a última remonta a 27 de fevereiro de 2016, com o At. Madrid – mas depois conjugaram-se dois fatores: o peso do Bernabéu, que tem ajudado a escrever histórias destas ao longo de seis décadas e o espírito competitivo de Ronaldo, que mesmo no ocaso de um jogo em que tudo parecia correr mal à sua equipa, estava no sítio certo para converter uma grande penalidade que reacendeu a chama e, depois, para saltar mais alto do que todos e, de cabeça, fixar um empate com contornos de mal menor.
RMA 2-3 LPA (86') - Acabamos de ver el gol de penalti número 100 en la carrera profesional de Cristiano (incluyendo tandas de desempate).
— MisterChip (Alexis) (@2010MisterChip) 1 de março de 2017
Três dias depois de uma reviravolta nos minutos finais, em Villarreal, diante do submarino amarelo, o Real não conseguiu, desta vez, reeditar o guião completo – e voltou a dar mostras de uma instabilidade defensiva que promete emoções fortes dentro de uma semana na visita a Nápoles.
Quem está a aproveitar a tremedeira merengue é o Barcelona que, depois da tempestade provocada pela goleada em Paris volta, aos poucos, aos velhos hábitos. Na visita do Gijón ao Camp Nou, os antecedentes (11-0 nas duas visitas anteriores) já davam um sinal claro, confirmado logo nos primeiros minutos pelo incontornável Messi. Desta vez foi com a cabeça que o argentino apontou o seu 21º golo na Liga - e 36º golo da temporada em outros tantos jogos oficiais. E quando um atabalhoado Juan Rodriguez desviou para a própria baliza um cruzamento de Suarez percebeu-se que vinha a caminho mais um descalabro asturiano.
Deu para tudo, na verdade: Suarez fez o gosto a pé antes de ser substituído ao intervalo, Messi ainda tentou esta maldade, que arrancou sorrisos a espectadores e companheiros...
Falta cobrada por Messi vista pela arquibancada. #FCBSporting pic.twitter.com/lRWtp8jr6W
— Messi Brasil (@BRleomessi) 1 de março de 2017
...antes de dar lugar a André Gomes, permitindo assim a Neymar receber o testemunho de livres artísticos e marcar um golaço de pé direito numa zona aparentemente reservada a esquerdinos
Hasta el de la seguridad quería ver el gol de Neymar pic.twitter.com/4vlTJka37x
— TDMás (@tdmas_cr) March 1, 2017
No final da goleada a bomba veio da sala de imprensa, com o anúncio, por parte de Luis Enrique, de que na próxima época não será ele a comandar a nau blaugrana. Está oficialmente aberta a época de candidaturas ao líder provisório da Liga espanhola – com mais um ponto e mais um jogo do que o Real. O que terão Sampaoli, e o seu Sevilha, a dizer quanto a isto?
Cimeiras luso-francesas, com Jardim outra vez a sorrir
Não terá tido a qualidade técnica do recital ofensivo dos catalães ou da recuperação contra-relógio do Real Madrid, mas o certo é que o Bastia-Nantes, primeiro duelo entre técnicos portugueses na Ligue 1, teve emoções redobradas e um golpe de teatro ao cair do pano. Tudo parecia correr mal a Rui Almeida na sua estreia pelo Bastia – que era também a estreia no primeiro escalão de França: aos 10 minutos teve um jogador expulso por vermelho direto. Aos 24, uma substituição forçada, por lesão.
Na segunda parte, porém, dois golos deixavam o Bastia encaminhado rumo a um triunfo determinante na fuga à despromoção – tanto mais que o Nantes, depois de encurtar distâncias, desperdiçou um penalti a dois minutos do fim. Mas a estrelinha de Sérgio Conceição apareceu no último lance dos descontos, com o central Diego Carlos (ex-Estoril) a subir à área para fazer o golo do empate e tirar o pão da boca.
Este foi o único jogo relativo à Ligue 1, uma vez que a quarta-feira foi dedicada à Taça de França. E, aí, houve outro técnico português a brilhar: o incontornável Leonardo Jardim, que viu o seu Mónaco sair por cima em Marselha, no duelo grande destes quartos-de final. Mais um jogo com direito a chuva de golos (4-3), o que já vem sendo habitual no percurso sensacional dos monegascos – desta vez com recurso a prolongamento. Na falta de Bernardo Silva, que só entrou em ação aos 80 minutos, coube a Moutinho ser titular e ficar ligado ao resultado, marcando o meio-golo feliz, com direito a carambola, que abriu caminho ao triunfo sobre a equipa de Rolando. E vão 117 golos em 44 jogos para a equipa de Leonardo Jardim!
E para fechar as referências a portugueses, destaque para a primeira titularidade de Gonçalo Guedes, que acabou por cumprir os 90 minutos na vitória do PSG sobre o secundário Niort. Com lugar garantido nos quartos, PSG e Mónaco assumem, assim, também o favoritismo na discussão da Taça, a exemplo do que já sucede no campeonato.
Inglaterra e Alemanha: Taça com a lei dos mais fortes
Numa noite em que as várias Taças nacionais assumiram protagonismo, Inglaterra assistiu à confirmação da lei do mais forte, com o Manchester City a juntar-se a Chelsea, Manchester United, Tottenham e Arsenal nos quartos de final. Depois do sensacional empate no primeiro jogo, o secundário Huddersfiled ainda fez a sua parte, abrindo o marcador e resistindo durante meia hora à pressão no Etihad. Depois, Aguero e companhia encarregaram-se de demonstrar que há limites para os contos de fadas, mesmo na Cup.
De lei do mais forte, se pode também falar na Taça da Alemanha, onde o Bayern precisou apenas de meia hora para «despachar» o Schalke – com mais um bis de Lewandowski – e tirar o pé na segunda parte. A equipa de Ancelotti junta-se ao Borussia Moenchengladbach e ao Eintracht Frankfurt nas meias (só históricos...), e fica à espera de que o Borussia Dortmund cumpra a sua obrigação perante o Sportfreunde Lotte, para agendar mais um clássico lá para finais de abril.