A notícia provocou algum espanto: o Benfica vai ser o primeiro clube português a usar uma rede de protecção para os adeptos visitantes, no piso 3 da bancada Norte, que visa «o maior conforto e resguardo dos adeptos visitantes» segundo João Gabriel, director da comunicação do clube.

Nova realidade em Portugal, o uso da rede é frequente nos estádios franceses. Em Lens, Marselha, Saint-Etienne, que até implementou acrílico para separar os adeptos visitantes dos outros. Mas o pioneiro foi o Paris Saint-Germain. Instaurou-a em 1998. «Nessa altura, havia muita violência entre os adeptos visitantes e os nossos, que estavam situados em cima deles», recorda Jean-Philippe dHallivillée, director da segurança do Parque dos Príncipes, ao Maisfutebol.

«Instalámos a vedação para evitar isso e também lançamentos de projécteis e de cadeiras», acrescenta. 13 anos mais tarde, o responsável assegura que quase não há desacatos na bancada F do estádio, junto ao relvado. «Já não registamos incidentes deste género. Também a extinção obrigatória das claques ajudou nisso», explica.

«Parecia uma gaiola»

O Maisfutebol falou com alguém que já viveu a experiência. Jean-Sébastien Le Berre é adepto do Brest e esteve nos dois últimos jogos da sua equipa no Parque dos Príncipes. Admite ter-se sentido «um bocado mais protegido». Mas mais do que «marginalizado», afirmou ser «animalizado»: «Parecia uma gaiola. Só faltava atirar amendoins».

Lembra inclusivamente ter sido alvo das provocações dos adeptos: «A bancada ao lado e por cima do sector de visitantes já não é composta por ultras, mas por jovens problemáticos que passam o tempo a insultar-te e a cuspir-te. Às vezes perguntas se vieram para ver futebol.»

A rede de protecção no «Parque» está aberta para a frente. Assim, permite ver o jogo normalmente. «E até temos uma boa visão do jogo», diz Jean-Sébastien Le Berre.

Falta de segurança com a rede

Onde as duas partes (direcção e adeptos) encontram um problema pode ser... a falta de segurança. «As vezes, há quem suba para cima da rede. E lembrem-se do Ivan Bogdanov [hooligan sérvio], no Itália-Sérvia, que cortava a rede. Também aqui pode acontecer um dia», diz dHallivillée.

«Já vimos na Itália uma scooter entrar numa bancada. E não impede as pessoas de urinar em cima dos adeptos, de atirar projécteis. Também me lembro de ver gente muito excitada subir nas redes e abaná-las para nos provocar. Se um pé ficar preso, a queda pode ser muito grave», conclui Jean-Sébastien Le Berre.