Ramires chegou ao Chelsea em 2010 para servir Carlo Ancelotti. Agora, com o italiano em Madrid, o brasileiro passa a ser o melhor amigo de José Mourinho. Dois golos na vitória do Chelsea frente ao Steaua de Bucareste.

Os jornalistas ingleses perguntam por De Bruyne, Mourinho responde com Ramires. Trabalhador, acutilante, incansável. Para além disso, tem golo. Os adeptos do Chelsea esquecem o aspeto franzino, qual queniano, e chamam-lhe Rambo. Vence qualquer guerra.

Aos 15 anos, trabalhava como ajudante de pedreiro. Saía de casa, pegava na bicicleta e lá ia ele, oito horas a carregar pedras e sacos de areia. Depois voltava à bicicleta e ia para o treino. Chegava lá fresco, como se tivesse acabado de acordar.

Incansável, preciso, fidedigno. José Mourinho desenhou o seu novo Chelsea em torno de Ramires. Há Lampard a seu lado, há Óscar, há Fernando Torres, pode haver Schurrle, Mata, Mikel ou Hazard. Mas o coração dos blues é brasileiro.

Há uma semana, os londrinos foram a Swindon para a Taça da Liga. Ramires ia descansar. Teve de entrar em campo ao 10º minuto de jogo, face à lesão de Van Ginkel, e marcou ainda antes do intervalo. Com o resultado assegurado (0-2), o técnico português nem hesita: Rambo não volta para a segunda parte. Outras batalhas pela frente.

Em Bucareste, após o empate no derby frente ao Tottenham (1-1), Mourinho volta a juntar Ramires e Lampard. O brasileiro destaca-se, uma vez mais. Marca dois golos, o primeiro e o terceiro. 

O mais utilizado do meio-campo para a frente
Começa por aparecer na área, qual ponta-de-lança, sem ninguém dar por ele. Nem os companheiros de equipa. Vai pé ante pé, percebendo o que outros não percebem. Sente que aquele movimento de Etoo não tem sucesso garantido. Chega-se à frente, desvia, coloca o Chelsea na frente.

Na segunda parte, dá mais um salto à área contrária. Desta vez, recebe sobre a direita, ajeita a bola e dispara. Faz o seu bis, terceiro golo da temporada. Pelo meio, correu, recuperou, ocupou espaços. Correu mais um pouco.

Hoje em dia, Ramires é fundamental no Chelsea. Apresenta-se em grande forma na quarta temporada ao serviço dos blues, após uma época de sucesso no Benfica. Os números comprovam: o brasileiro é o elemento mais utilizado por José Mourinho, do meio-campo para a frente.

Scolari não prescinde do jogador
Luiz Felipe Scolari agradece o momento de forma do Rambo, Queniano, Pernalonga, seja o que for. O selecionador brasileiro decidiu, em agosto, ignorar a posição pública do presidente da Confederação Brasileira de Futebol. José Maria Marín queria excluir o médio da seleção.

A história é a seguinte: em março de 2013, Ramires foi convocado para dois amigáveis da seleção mas estaria lesionado, prometendo apresentar-se no sábado à noite, no hotel onde o Brasil ficaria alojado em Londres. O médio apareceu apenas no dia seguinte. Pelo meio, surgiu uma foto de Ramires a festejar o seu 26º aniversário, na noite anterior. Bronca.

O jogador do Chelsea não foi chamado para a Taça das Confederações mas viria a merecer um voto de confiança de Scolari. Mesmo perante as declarações polémicas de Marín, apontando para um afastamento definitivo.

«Não é o Marin que convoca. Quando me convidou para ser técnico me deu totais condições de fazer o meu trabalho. O atleta teve uma dificuldade, entendemos a dificuldade e ele terá a chance de fazer parte do grupo. Ninguém disse que ele vai ser cortado ou que seguirá no grupo no futuro», frisou o selecionador.

Ramires agradeceu a oportunidade e voltou a ocupar o seu espaço na seleção, como figura central. «O que tinha para ser esclarecido sobre o episódio de Londres já foi feito por ambas as partes. Agradeço a compreensão que ele teve com a situação e, com isso, não vejo mais motivos para comentar sobre esse assunto publicamente», resumiu.

Aos 26 anos, no auge da sua carreira, Ramires apresenta-se como um homem de confiança para Luiz Felipe Scolari e torna-se o melhor amigo de José Mourinho no Chelsea.