Com o apuramento e o primeiro lugar no grupo garantido, tal como era expectável, Portugal apresentou um onze inicial muito diferente, dando minutos de jogo a vários jogadores. 

A maior dúvida, dentro da rotatividade que se antevia, prendia-se com a estrutura de jogo a apresentar. Neste caso Roberto Martinez apresentou outra vez uma estrutura com uma linha de cinco atrás, tal como no primeiro jogo do Europeu, com um posicionamento em 3x4x3 no momento atacante.

1. Erro individual lança o adversário para um bloco muito baixo e curto

O jogo começou praticamente com o primeiro golo da Geórgia, fruto de um erro individual de António Silva, o que tornou difícil perceber qual teria sido o comportamento dos georgianos não marcando tão cedo. Certo é, que perante estas circunstâncias, o jogo tornou-se de domínio territorial por parte de Portugal, num registo muito similar ao primeiro jogo, frente à Chéquia.

Portugal teve muita bola, instalou-se no meio-campo ofensivo, jogou com as linhas muito subidas, frente a um adversário que se defendeu com tudo e tentou explorar o espaço para algumas saídas em contra-ataque. Apostando numa estrutura 5x3x2, a Geórgia organizou-se num bloco muito baixo e curto, com foco no fecho do espaço central.

Impediu a profundidade do jogo de Portugal, com os setores muito próximos, o que deixava pouco espaço entrelinhas. Perante isto, apresentou uma primeira linha defensiva de dois avançados sem pressionar a construção a três da equipa portuguesa, ficando apenas com a função de baixar, tirar espaço aos nossos médios e estar bem posicionados no corredor central.

2. Portugal repete as dificuldades perante equipas com bloco muito baixo

A estratégia foi claramente não pressionar muito, numa boa organização zonal. Juntar linhas atrás, deixar que a equipa portuguesa circulasse à largura e depois ajustar-se para controlar o jogo exterior. Portugal, embora com muito bola, paciência e circulação de corredor a corredor, mais uma vez com dificuldade para desmontar e criar situações perante equipas com bloco muito baixo. Isto já tinha ocorrido no primeiro jogo, voltando hoje a ser muito evidente.

Partindo da construção a três (António Silva, Danilo e Inácio), Portugal usou mais uma vez posicionamentos assimétricos no momento com bola nos corredores laterais. No lado esquerdo, Neto com função de jogar aberto, deixando João Félix no espaço interior, enquanto na direita, embora com algumas trocas, fosse Francisco Conceição que jogava aberto e Dalot que aparecia dentro (à imagem dos movimentos que Cancelo faz).

3. Félix e Dalot deixavam posição interior para vir receber fora, o que não ameaçava a linha adversária

Com isto a ideia era que Félix e Dalot fossem os jogadores colocados entrelinhas (nas costas dos médios adversários). Contudo, ainda que partissem dessas posições, perante a falta de espaço, acabavam por perder a posição interior e de possível ameaça à linha defensiva adversária, e vinham receber em zonas mais laterais e fora do bloco adversário. Deste modo, Portugal circulava com facilidade a bola, sem pressão aos três defesas centrais, e conseguia chegar com facilidade aos corredores, mas não conseguia furar e desorganizar o bloco adversário.

A circulação andou muito à volta do bloco adversário (em U), por trás e por fora, sem ultrapassar muitas linhas, nem deixar adversários para trás. O corredor central estava bem fechado e a equipa portuguesa não conseguia mover o adversário e criar espaços para jogar dentro, acabando por ir sempre para zonas exteriores onde não desequilibrava.

A dificuldade em posicionar jogadores dentro do bloco adversário acabava por levar Portugal a jogar muito em apoio e segurança, com pouca capacidade de desequilíbrio e de ameaça à linha defensiva adversária, que jogou sempre confortável. Muitos jogadores vinham receber baixo e sobravam poucos para ruturas. Além disso, tal como no primeiro jogo, os jogadores exteriores também com pouca capacidade para resolverem no um para um: fizeram algumas tentativas, mas a equipa criava poucos momentos para que ficassem em situação de um para um.  

Portugal tinha por isso muito bola, muito domínio, mas pouca objetividade e velocidade na circulação, quase como se fosse circulando muito, mas sem ideia de para onde ir e de como desorganizar o adversário. Conseguia, contudo, jogar com linhas muito subidas, o que ia permitindo controlar muitos contra-ataques adversários, reagindo à perda rapidamente, e ameaçar com remates de fora da área.

Estes surgiam sobretudo após atrair a um corredor e tentar ligar um passe para a entrada da área, para os médios ou para João Félix, que se foi soltando e mexendo mais entrelinhas (momentos em que a equipa melhorou um pouco na criação).

4. Alterações partiram o jogo e permitiram mais transições ofensivas à Geórgia

No momento defensivo, a equipa Portuguesa manteve o registo pressionante e tentou evitar a construção do adversário, mais uma vez com algumas referências individuais, sobretudo no meio-campo. Neste jogo, com a nuance de ser João Félix a fechar no médio mais defensivo adversário, para igualar, juntamente com Palhinha e João Neves, os três médios adversário.

Num primeiro momento (bola no guarda-redes), Ronaldo e Francisco Conceição ficavam numa linha mais alta, sendo que num segundo momento o jovem extremo baixava para o seu corredor. Ainda assim, mesmo perante um adversário que jogava mais vezes direto e com pouca construção, a equipa portuguesa não foi tão intensa e organizada como nos jogos anteriores, permitindo mais espaços e variações de corredor.

O registo de jogo não sofreu alteração mesmo com as substituições, umas programadas (saída de Palhinha), outras para dar mais frescura e dinâmicas ofensivas, embora sem alterar estrutura.

Contudo, as alterações tiveram pouca eficácia. O jogo ficou mais partido, com mais transições para a Geórgia e menos capacidade de controlar o jogo. Na criação, as dificuldades mantiveram-se e aumentaram o número de cruzamentos para a área, a maior parte deles condenada à partida.