PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. Cultural, quero crer. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura, no teatro. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Mas não só. Ideias soltas, reflexões comuns, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera das nossas prioridades. PLAY.
SLOW MOTION:
«LOOKING FOR ERIC» (O MEU AMIGO ERIC). Um carteiro deprimido, fanático do Manchester United, apoiado no ombro de um amigo imaginário. O amigo chama-se Eric Cantona e, como se lê nos créditos finais, é representado por
lui même.
Há momentos deliciosos, sustentados na filosofia particular e pertinente do King Eric. Bishop, o pobre funcionário dos correios, desabafa a má sorte, em desespero. Cantona, altivo, sugere-lhe uma mudança radical nos hábitos de vida: «
deixa a lager (cerveja), bebe vinho tinto. É mais classy».
Instantes excêntricos, surreais, diálogos a rebuscarem o passado de Eric,
Le Roi.
«O que fizeste durante a tua suspensão?»,quer saber o carteiro Bishop.
«Aprendi trompete. É-me muito útil».Glorioso.
O realizador Ken Loach levanta questões interessantes. E se os nossos heróis do futebol nos pudessem ajudar nas pequenas angústias do quotidiano? O filme passou pelas salas de cinema portuguesas em 2009. Poucos o terão visto. É pena. É uma pedra preciosa, rara e bem escondida.
SOUNDCHECK:
«GOAL, GOAL, GOAL», JAMES. Tim Booth y sus muchachos transformam
Low, Low, Low na celebração épica do golo. A música é um envergonhado B-Side do single
Just Like Fred Astaire. Porquê? Bem, porque a seleção de Inglaterra falhou a qualificação para o Mundial-94.
Os milhões de vendas projetados foram um flop, mas os veteranos James não se desfizeram da melodia. O som faz parte, de resto, do álbum oficial do Campeonato do Mundo dos Estados Unidos,
Gloryland. É a melhor composição do
soundtrack, aliás.
Jon Bon Jovi também lá está com
Blaze of Glory e os Scorpions tocam
Under the same sun. Concorrência de gosto discutível, está visto.
VIRAR A PÁGINA:
«THE MIRACLE OF CASTEL DI SANGRO», de Joe McGinniss. Podia ter saído da mente brilhante de Mario Puzo, mas não. Este livro não tem ponta de ficção. É a realidade burlesca dos escalões secundários em Itália.
Um jornalista norte-americano mergulhado nos esquemas sombrios e na ambição desmedida que conduz o modesto ASD Castel di Sangro à Serie B do
Calcio. McGinniss passa de observador atento a protagonista e interveniente meticuloso, encantado pelas subtilezas imorais do jogo.
Do misterioso Signor Rezza, ao obstinado treinador Osvaldo Jaconi, personagens riquíssimas, pessoas como nós. Entreguem este guião a Martin Scorcese, urgentemente.
PS: o meu obrigado ao leitor (e amigo) Manuel Neves por esta dica.
Priceless!
PALCO:
CORO DOS MAUS ALUNOS. A Companhia Ballet Teatro encena uma história sobre um professor, narrada pelos seus alunos. Uma aproximação ao belíssimo Clube dos Poetas Mortos e ao poder transformador do ensino. O autor do texto é Tiago Rodrigues. Está em exibição no Balleteatro Auditório de 5 a 7 de dezembro, às 15 h e 21h30.
«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.
Opinião
6 dez 2012, 23:58
PLAY: l'enfant terrible, Scorcese na Serie B e Goal, Goal, Goal!
Viagens por Manchester, Castel di Sangro e o Mundial-94
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