O F.C. Porto tem o «bibota», o Pêro Pinheiro tem o «bipresidente». Fernando Gomes foi, de resto, o representante dos «dragões» no sorteio da 3ª eliminatória da Taça de Portugal, que ditou a visita ao lar de Domingos Janota, o homem que lidera dois clubes.

O Pêro Pinheiro é o primeiro amor, assume o próprio ao Maisfutebol. «O meu pai foi um dos fundadores, tinha eu quatro anos. Acompanhei toda a vida do clube», explica o dirigente, agora com setenta anos. Foi presidente do emblema sintrense na década de 70 e 80, mas no início dos anos 90 assumiu a liderança do Igreja-Nova, clube do concelho de Mafra. Há seis anos não resistiu ao apelo, e voltou ao Pêro Pinheiro: «Estava sem direcção, e depois de nove assembleias gerais pedi para fazerem as contas que eu tomava conta das coisas. Deste então acumulo a presidência dos dois clubes.»

Em 2006/07 as equipas de Domingos Janota até se defrontaram na Divisão de Honra da Associação de Futebol de Lisboa. O Igreja-Nova empatou em Pêro Pinheiro (2-2) e depois venceu em casa (1-0). «Estava neutro, mas tínhamos uma equipa boa no Igreja-Nova, que subiu à 3ª divisão com o meu filho e o meu neto», recorda.

Com o final do Igreja-Nova (a equipa voltou esta época, para participar no escalão mais baixo), a ligação familiar mudou de clube. O filho de Domingos Janota, Rui Paulo, é agora treinador do Pêro Pinheiro, e no plantel está o neto, com o mesmo nome (filho do técnico). «E na maior parte dos jogos sou eu o delegado», avisa o presidente, para deixar claro que não vê problema nesta situação. «Têm conseguido fazer o papel deles, e eu sinto-me orgulhoso. Não estão aqui por favor», sustenta.

O palpite certeiro e o orgulho de um presidente benfiquista

No grupo de trabalho do Pêro Pinheiro houve quem adivinhasse o desfecho do sorteio. «Temos um adjunto que é todo portista, e disse-me que íamos jogar contra eles», conta Domingos Janota, que assume uma preferência diferente, ainda que assumindo a satisfação por defrontar o F.C. Porto. «Vamos receber uma das maiores equipas nacionais e mundiais. Não digo a maior, pois sou benfiquista (risos). Em primeiro lugar está a vertente desportiva, pois este é um momento histórico para o clube, e há sempre a vertente financeira, que ajuda sempre. É um orgulho receber um símbolo do futebol português e um dirigente histórico como Pinto da Costa», afirma ao nosso jornal.

O presidente do Pêro Pinheiro é realista na abordagem ao jogo com o F.C. Porto, mas não abandona a esperança que alimenta estes duelos da Taça de Portugal: «Seria louco se dissesse que íamos eliminá-los, mas vamos fazer o melhor possível. No futebol não há certezas. Por vezes também vamos jogar com os últimos a pensar que somos uns campeões».

A 3ª eliminatória vai ser disputada entre os compromissos das selecções e mais uma ronda europeia, mas Domingos Janota diz que o F.C. Porto «aprendeu a lição esta semana», na visita ao Feirense. «Ando no futebol há 35 anos, e sei que os jogadores não são todos iguais. Há imprescindíveis. Quando se facilita...»

O Pêro Pinheiro tem jogado no Campo Conde de Sucena, casa do 1º de Dezembro, mas o presidente garante que as obras do Parque de Jogos Pardal Monteiro estão concluídas bem a tempo da recepção ao F.C. Porto. «Fica tudo pronto nesta quarta-feira. Ainda não falei com os meus colegas de direcção, mas a minha vontade é jogar em casa, pois é um jogo que fica para a história do clube», explicou o líder, que garante uma capacidade mínima de quatro mil adeptos.