Seis Campeonatos da Europa, doze Campeonatos do Mundo (recorde absoluto) e seis Jogos Olímpicos. Sete, a partir do Rio de Janeiro 2016. Este é o riquíssimo pecúlio de Jesús Ángel García Bragado, atleta espanhol da marcha. Este fim de semana, o Comité Olímpico Espanhol confirmou que irá marcar presença em mais uma edição dos Jogos. Será o espanhol que mais vezes esteve nas Olimpíadas e apenas o segundo representante do atletismo a atingir a marca.

Apesar disso, Jesús Ángel García é, praticamente, um desconhecido, até no seu país. Passeia na rua com a tranquilidade destinada ao comum dos cidadãos, raramente lhe pedem um autógrafo ou uma fotografia. Um contraste evidente com atletas de outras modalidades, com tratamento de autênticos heróis.

Já foi campeão do mundo (50km marcha em 1993), mas nunca conseguiu uma medalha nos Jogos Olímpicos. O melhor foi o quarto lugar em Pequim 2008. A trajetória nas Olimpíadas começou a ser desenhada em «casa», em Barcelona 92, e ainda não parou. Não é recordista, longe disso, mas tem algo que o distingue dos demais casos de longevidade: na sua disciplina, a condição física é ainda mais determinante. 

A sua história nos Jogos terá outro capítulo no Brasil. O final? Nem ele sabe. Basta ter em conta uma entrevista que deu ao jornal «El Mundo Deportivo», em 2013: « Sou como os Rolling Stones. Nunca se sabe quando vai ser o último concerto.»



Doping russo é espinha na garganta

A falta de medalhas em Jogos Olímpicos (além do quarto lugar de Pequim conseguiu um quinto em Atenas, o que lhe deu dois diplomas), voltou à ribalta recentemente por causa da polémica em torno dos atletas russos, ligados a um sistema de doping.

A verdade é que, descontando os russos, Jesús García teria duas medalhas olímpicas. Numa entrevista ao jornal «ABC», foi questionado se a situação lhe dá raiva. Respondeu assim: «Vendo as informações de que havia um sistema para conseguirem melhor rendimento para alguns atletas, independentemente de quem foram, é possível que hoje tenha a satisfação moral de que poderia ter estado num pódio olímpico. Lamentavelmente, não será assim. Fico com a satisfação de que tudo o que consegui foi de forma honesta e posso retirar-me de cabeça erguida.»

García sempre assumiu a sua luta contra as substâncias proibidas no atletismo. Uma frase sua que ganhou eco no seu país comparava o doping à corrupção política: «São duas m** muito parecidas».

Queixa-se da «gente que assobia para o lado» e «finge não ver» o que está a acontecer. E lamenta, noutra área, que Espanha não perceba que há trabalho a fazer na sua disciplina. Dá como exemplo os seus resultados. Este verão foi o terceiro melhor do seu país nos 50km marcha dos Mundiais de Pequim. Acha incrível.

«Com esta idade, eu teria de ir para a secção das curiosidades, até porque o meu resultado, nono lugar, nem sequer foi extraordinário», desabafa.

É a correr, contudo, que García quer alertar para as carências do atletismo no seu país, para que as entidades percebam que há que encontrar formas de as solucionar.

Enquanto isso, se tudo seguir a normalidade, chegará, então, aos sétimos Jogos Olímpicos da carreira, juntando-se a uma lista em que só está um representante do atletismo. Ou melhor, uma: trata-se de Merlene Ottey que participou em todas as edições entre 1980 e 2004, seis pela Jamaica e uma pela Eslovénia, país onde passou a residir.

Os portugueses com mais Jogos Olímpicos

A situação de Jesús Ángel García faz levantar a questão sobre a amplitude de carreira dos atletas portugueses. Neste caso, o atleta luso com mais participações em Jogos Olímpícos é o velejador João Rodrigues (foto).



Ao todo, esteve em seis edições, tal como Jesús García, e também ele tem garantida a presença no Rio de Janeiro, se tudo correr dentro da normalidade.

Depois, há um grupo ainda elevado com cinco participações, sendo que o atirador João Costa irá juntar-se a eles no próximo ano. Os outros são Fernanda Ribeiro e Susana Feitor (atletismo), Henrique Calado (hipismo), João Rebelo (tiro) e Duarte Bello (vela).

ATLETAS COM MAIS PARTICIPAÇÕES NOS JOGOS OLÍMPICOS:

Dez participações: Ian Millar (Canadá), Hipismo



Recordista absoluto e ainda em atividade. Aliás, garantiu ainda antes dos Jogos Olímpicos de Londres, que, caso consiga um cavalo competitivo, estará no Rio de Janeiro, no próximo ano. Participou pela primeira vez nas Olimpíadas de Munique, em 1972, e só não conta com 11 edições consecutivas no palmarés porque o Canadá boicotou os Jogos de Moscovo, em 1980. O melhor resultado foi o bronze por equipas nos JO de Pequim.

Nove participações: Hubert Raudashl (Áustria), Vela; Afanasijs Kuzmins (Letónia), Tiro

O velejador austríaco Hubert Raudashl foi, até Pequim 2008, líder destacado deste ranking, sendo, então, igualado por Ian Millar e, depois, ultrapassado em Londres. Participou pela primeira vez nas Olimpíadas de Tóquio, em 1968, e não falhou uma edição até Atalanta 96, quando se despediu. Venceu duas medalhas de prata (México 68 e Moscovo 80).

Em Londres, além de ser ultrapassado por Millar, Raudashl ganhou nova companhia na casa das nove participações. Trata-se do atirador letão Afasijs Kuzmins, que ainda poderá marcar presença no Rio de Janeiro. Curiosamente Kuzmins participou por dois países, sendo que representou a União Soviética em 1976, 1980 e 1988 e a Letória a partir de 1992. É o atleta do Tiro com mais presenças de sempre.

Oito participações:
-Piero d’Inzeo (Itália), Hipismo
-Raimondo d’Inzeo (Itália), Hipismo
-Durward Knowles (Grã-Bretanha), Vela
-Paul Elvstrom (Dinamarca), Vela
-Rajmond Debevec (Eslovénia), Tiro
-Josefa Idem Guerrini (Itália), Canoagem


Rajmond Debevec e Josefa Idem Guerrini são os únicos desta lista ainda em atividade, tendo participado em todos os Jogos Olimpicos desde 1984, até Londres. Curiosamente, ambos representaram dos países diferentes: Debevec a Juguslávia e a Eslovénia; Guerrini a RFA e a Itália.

O dinamarquês Paul Elvstrom é o caso de maior sucesso neste leque: foi quatro vezes seguidas campeão olímpico, entre 1948 e 1960.