* por Roberto Rivelino

Teoriza Nassir Ghaemi que aqueles que sofrem perturbações de humor e mania são a melhor resposta para liderar em tempos de crise. Esquecendo o seu estudo político e psiquiátrico em figuras como Martin Luther King ou Adolf Hitler, encontramos uma versão nada desfasada da sua teoria em Nápoles, chegando assim a Aurelio De Laurentiis.

Depois de mais uma pérola durante o anúncio da saída de Rafa Benítez, o Maisfutebol decidiu conhecer melhor esta riquíssima personagem.

Cineasta conceituado em Itália e Hollywood, (mais do que) premiado e dono de uma cadeia de teatros com distribuição digital. O poder cresceu em Aurelio na golden age do cinema transalpino, entre as décadas de 40 e 70, em que reinavam o pai Luigi e o tio Dino.

Aurelio catapultou o sucesso com sentido empreendedor e capitalista. Tornou-se milionário fruto do seu génio, criatividade e visão. E aí chegamos ao futebol napolitano.

 Em 2004, Aurelio venceu o leilão de um Nápoles em bancarrota. Revitalizou-o e mudou a sua imagem. Apagou a ligação mafiosa do passado e fez cair a associação do clube a Maradona.

Literalmente, Aurelio escreveu direito pelas linhas tortas dos anos 80 e 90. Pegou no clube na Serie C e em três temporadas colocou-o a nadar com os tubarões da Serie A. Não demorou muito até estabelecer o seu poder.

Afinal, quem financia um filme com Angelina Jolie, Jude Law, Gwyneth Paltrow e Michael Gambon tem mãos para mais.

Impôs a sua vontade. E com a mania de Aurelio De Laurentiis cresceu a força da sua vontade e mostrou que não existe um filtro entre os seus hemisférios e os seus discursos. Segui-lo no twitter é uma boa forma de conhecer o lado selvagem do discurso deste napolitano de sangue quente:
 
Frases como «não te vou bater porque és um velho» ou «os ingleses vivem mal, comem mal e as mulheres não lavam os genitais, para eles um bidé é um mistério» ecoam até hoje.

Dá para perceber tudo, mesmo sem contexto – até porque não vale a pena salientá-lo. Mas Aurelio justifica: «o criticismo é sempre uma maneira de melhorar a performance de todos. Fui educado em democracia e liberdade de expressão.»

Talvez por isso Roberto Donadoni só tenha sido treinador do Nápoles durante oito meses. Faltava-lhe um médio esquerdo, dizia o ex-selecionador italiano. Então, De Laurentiis sugeriu: «porque é que ele não o compra então? Se ele fizer isso será muito bom para o clube.»

Nem Edy Reja sobreviveu, o «velho» de frases anteriores. Já Walter Mazzarri e Rafa Benítez foram estimados. E tiveram em mãos talento para disputar as competições europeias.
 
De Marek Hamsik a Gonzalo Higuaín, passando por Cavani, Callejón ou Lavezzi. Este último, com um problema: «um atelta não deve sair para beber álcool ou frequentar prostitutas», disparou Aurelio De Laurentiis, culto de personalidade partenope.

Quando um espelho fala, a reflexão mente, cantariam os Living Colour para este caso. Acertadamente.

Os desabafos de De Laurentiis depois do Nápoles-Dnipro:



«Dirigir um clube é como fazer um filme a cada domingo: nunca sabes o fim»

Aurelio De Laurentiis é consciente da realidade do futebol italiano. «Contra Berlusconi não há nada a fazer», disse uma vez, e por isso não sonha com o scudetto. Anti-Platini e Blatter, é dos maiores opositores às políticas e acontecimentos dos órgãos tutelares do futebol mundial e europeu.

Mas, em Nápoles é ele a escrever o argumento e a produzir o que bem entende. Forçou, grosso modo, o presidente da cidade a aceitar os planos de expansão do Estádio San Paolo, sob o risco de mudar a equipa para Inglaterra.

Propôs à Liga italiana a realização da primeira jornada da Serie A em dez cidades diferentes por todo o mundo. Sem centros de treino, equipamentos ou sequer jogadores, comprou o clube por 35 milhões de euros e fez dele um dos maiores de Itália.

Quer seguir o exemplo da família Pozzi, que comanda a Udinese, o Granada e o Watford: reflete sobre a compra de um clube nos Estados Unidos, outro no Reino Unido e outro no Brasil.

Nada consegue parar as manias de Aurelio De Laurentiis.