O Sporting partiu para esta época com baixas expectativas. Depois de três temporadas más (sendo a ultima a pior da sua história), apresentou-se com novo presidente e um novo treinador.

Obrigado a baixar custos a todos os níveis, face ao despesismo das temporadas anteriores, reduzir era a palavra de ordem. O Sporting não se assumiu como candidato ao título (fez bem) e pensou em vencer cada jogo. Bruno de Carvalho escolheu Leonardo Jardim para liderar a equipa. Sem dúvida uma escolha foi acertada: o treinador foi o grande responsável pelo que aconteceu esta época.

O plantel sofreu mexidas, entre saídas, regressos, afastamentos, processos, algumas contratações (mesmo assim demasiadas) e vários jovens da formação chamados para fazerem parte da equipa principal. Com um grupo de qualidade inferior aos outros grandes, Leonardo Jardim conseguiu construir uma equipa solidária, organizada e, com estes príncipios, trilhou um caminho e a uma jornada do final da temporada, por mérito próprio, conseguiu um segundo lugar, com acesso direto à Liga dos Campeões.

O técnico incutiu vontade de vencer e a equipa foi crescendo, ganhando confiança e seguiu o seu caminho até ao fim. Olhando para o passado recente e para o que eram as expectativas para esta época, acabou por superá-las. A um jogo do fim tem a segunda melhor defesa, com 19 golos sofridos e o terceiro melhor ataque, com 54 golos.

A melhoria é por demais evidente, por comparação com o passado recente: teríamos de recuar até 2006/07 para encontrarmos números semelhantes (54/15). A média de idades dos 11 mais utilizados foi de 24,3 anos, mais baixa do que as apresentadas pelo FC Porto (25,6) e pelo Benfica (27,3).

Deste onze habitual, cinco elementos são provenientes da formação. E ainda existem Wilson Eduardo, Carlos Mané, Dier e outros que, na equipa B, se preparam para poderem ser opção. Para o ano, regressa João Mário e talvez Betinho - mas o médio vai ser candidato ao onze.

O Sporting valeu pelo seu todo, pela forma consistente como a equipa se apresentou, mas dois elementos se destacam dos demais: Rui Patrício e William Carvalho. Rui é uma certeza e nesta época voltou a provar porque razão é o melhor guarda redes português e um dos bons valores europeus. Além das muitas qualidades para a função, tem personalidade, revela confiança e coragem e dá segurança à equipa.

William foi a revelação, o garante da estabilidade e organização na zona vital do meio campo.
Jardim apostou nele desde a primeira hora e o miúdo não o deixou mal. Foi crescendo de rendimento, acompanhando a equipa e sentiu se sempre confortável na posição. Parecia que jogava lá há anos mas era apenas a primeira vez, de uma forma consistente. Revelou maturidade e forte personalidade. Apresentou rendimento mas ainda pode melhorar. Aguardemos pelo Brasil e veremos se terá a sua oportunidade no Mundial. Qualidade não falta para ser uma opção muito válida.

Jardim definiu desde cedo o eixo central, aquele que iria suportar a equipa. Além de Rui e William, a dupla de centrais, formada por Rojo e Maurício, teve um bom comportamento e entendimento durante a época. Adrien foi também, desde a primeira hora, um dos três do meio campo: apresentou rendimento e fez golos.

Ele e William jogaram sempre e o bom posicionamento dos dois foi importante na organização e dinâmica da equipa.

Na frente, surgiu Montero e a sua qualidade ficou cedo demonstrada. Bom tecnicamente e com boa mobilidade, foi fazendo golos. Marcou 13, mas desde 8 de Dezembro de 2013 que deixou de o fazer. Sem marcar, saiu do onze e veremos se termina a época como começou.

Por último, umas notas para Slimani, Mané e Carrilo. O avançado é um jogador diferente de Montero: mais posicional, é um homem de área e, nesta fase final da época, foi importante.
Passou a titular e respondeu com golos.

Carlos Mané chegou da equipa B e de Fevereiro até hoje fez 12 jogos. É um jogador versátil, que tanto pode jogar na ala como a interior e o seu repentismo e capacidade de acelerar o jogo é importante numa equipa que é muito certa, organizada. O Sporting precisa de velocidade, de fantasia e espontaneidade, e jogadores como Mané e Carrillo podem dar isso à equipa.

Mané assimilou mais rapidamente o que é preciso. Já Carrillo podia estar, a meu ver, entre aqueles mais importantes na época e não está. Esperava mais dele, pelo seu potencial e qualidade, mas vejo o tempo a passar e o seu rendimento a não ser aquele que é possível ter. Jardim conhece-o, lida com ele todos os dias e espero que possa retirar dele todas as capacidades que possui, para beneficio do proprio e da equipa.

E o que vem aí?

A Liga dos Campeões está de volta a Alvalade. Bruno de Carvalho já elevou a fasquia, afirmando que para o ano o Sporting vai lutar pelo titulo.

As expectativas foram superadas é certo e eram com certeza poucos os que pensavam neste resultado final mas não me parece a melhor opção falar de candidatura ao título. O Sporting está num processo de reconstrução, de equilíbrio e organização e isso não se consegue num ano, apesar da excelente prestação da equipa e de todo o trabalho realizado.

Ter o titulo como objectivo é colocar pressão acrescida sobre o treinador, sobre os jogadores e levar os adeptos para um grau de expectativa superior. O Sporting tem de ir marcando a sua posição, jogo a jogo, sempre com ambição e querer (Jardim demonstrou que sabe como fazer) e ir atingindo os patamares definidos, para redefinir os objectivos à medida que se vão atingindo.

Assumir esta forma de estar não é a meu ver, sinal de fraqueza mas de realismo face ao momento do clube. E não retira nem um pouco da ambição e da vontade de vencer sempre que se veste aquela camisola verde e branca, como se viu este ano.

Relembro o que escrevi aqui a 12 de Fevereiro e 4 de Junho do ano passado a propósito daquilo que eram as minhas expectivas para o clube.

É certo que não sei nesta altura quais as condições que Bruno Carvalho pensa dar a Jardim para atacar o titulo.

Mas a aposta na formação e na qualidade dos jovens jogadores tem de se manter. E, se for possível contratar, o ideal é que o façam de forma cirúrgica, com elementos que acrescentem valor. A presença na Liga dos Campeões é motivo de orgulho, e ajuda a recuperar o prestígio, mas não deve trazer loucuras.