O quadro continua negro. Os salários em atraso são uma praga persistente no futebol português. O Sindicato de Jogadores, a Associação de Treinadores e a Associação de Árbitros gritaram «basta» esta quinta-feira, em conjunto. Joaquim Evangelista foi o mais incisivo nas críticas.

«Paguem o que devem», urgiu o presidente do Sindicato de Jogadores, ladeado por José Pereira (ANTF) e José Gomes (APAF), no Porto. Vamos por partes. Primeiro, a pintura de um cenário perigoso, desajustado com o futebol profissional e as suas exigências.

«Se o licenciamento de clubes fosse eficaz isto não se colocava. Olhanense, V. Setúbal, V. Guimarães e Beira-Mar, só para citar os casos já públicos, continuam a ter salários por liquidar», criticou Joaquim Evangelista, lamentando o «temor» que se apodera de muitos futebolistas na hora de fazer ver os seus direitos.

Arbitragem: o escandaloso caso de uma despromoção

«Ganham pouco, podem perder o emprego, são vulneráveis. O Sindicato acorreu aos casos mais dramáticos, mas alguns dirigentes não merecem o respeito que tivemos por eles», insistiu Joaquim Evangelista.

A entrada de investidores estrangeiros, «munidos de um livro de cheques», a irresponsabilidade dos dirigentes nacionais e o excesso de futebolistas estrangeiros na I Liga não fugiram ao forte ataque de Evangelista.

Um caso, porém, tomou contornos mais dramáticos do que todos os outros. O caso da Naval 1º Maio. «É vergonhoso o que se passou. Desde novembro que os atletas não recebem, andam a receber esmola do fundo salarial. A Liga e a FPF não podem pactuar com isto. O senhor Aprígio Santos [presidente da Naval] tem de dar a cara».

Joaquim Evangelista fez questão de tocar noutros pontos sensíveis do futebol indígena. Os processos de insolvência, que precipitam a abertura «na porta ao lado» de um outro clube com as mesmas estruturas, «de forma a fugir às dívidas», e as declarações individuais dos atletas sobre a regularização salarial.

«Já dissemos à Liga que a regra tem de mudar. Os clubes têm é de apresentar o recibo de vencimento saldado», sublinhou Evangelista, concluindo este tema com uma advertência: não é só em Portugal que o Sindicato convive com histórias trágicas.

«Há casos dramáticos no Chipre. Custo de vida é elevado e 1500 euros não chegam para estar confortável. Há máfias instaladas. Antes de assinarem com algum clube desse país, os jogadores têm de se esclarecer com o sindicato. Há muitos disparates».

Não são só os jogadores a exigir o pagamento de verbas. José Pereira, líder da Associação de Treinadores tem muito o que contar. «Houve alturas da época em que mais de 50 por cento dos treinadores tinham os vencimentos em atraso. A Liga deve ter mais cuidados na análise aos pressupostos».

Na arbitragem profissional tudo está em dia, assegura José Gomes, presidente da APAF. O problema é visível nos patamares mais baixos. «Existem atrasos de pagamentos nas provas distritais, infelizmente».