O castigo de Primo significa a oportunidade que Mangualde sempre sonhou. A estreia como titular no Paços de Ferreira pode acontecer no próximo domingo, precisamente frente ao Benfica, no imponente Estádio da Luz. Para um estreante, o nome do adversário e a grandeza do recinto poderiam ser sinónimo de nervosismo, mas esta não será a primeira vez que os destinos se cruzam. Mangualde formou-se no Sporting, conhece Simão, foi treinado por Chalana no Oriental e soma muitos duelos com o eterno rival quando ainda dava os primeiros pontapés na bola: «Um deles foi em Alvalade, quando fomos campeões nacionais de juvenis. Portanto, já estou habituado». Na época passada, defrontou pelo Oriental os encarnados, na Luz, em jogo da Taça de Portugal.
Enquanto fala, puxa o filme atrás e não tem dúvidas. «Será uma pequena vingançazinha», explica o lateral direito ao Maisfutebol com um tímido sorriso. Na memória ainda está cravada a derrota por 3-1 e uma exibição do seu modesto clube «que levou Trapattoni a mexer na equipa para vencer o desafio e o Miguel acabou por se lesionar». Agora, tudo será diferente. «Na época passada fomos para fazer história, agora vamos com o intuito de jogar o jogo pelo jogo». Considerações de quem quer «agarrar a oportunidade» que terá pela frente, apesar de um dos seus possíveis adversários impor respeito.
Simão, o nome surge de repente. «Conheço o Simão do centro de treinos do Sporting e vivemos juntos durante um ano. Sempre o segui como exemplo e foi uma das minhas referências em Alvalade. Já pensei que ele pode aparecer-me pela frente, mas o Manduca também é um excelente jogador e vai querer mostrar serviço». Portanto, não há por onde escolher. «Também será o meu reencontro com Chalana, um treinador com quem aprendi muito no Oriental. Ele consegue um excelente espírito de grupo e é de uma humildade impressionante para quem foi um dos melhores jogadores de sempre do futebol português».
Da desmotivação no Sporting ao medo do desemprego
Mangualde formou-se no Sporting, foi colega de Quaresma, Hugo Viana, Lourenço e Carlos Martins, mas o sonho de um dia singrar de leão ao peito não passou de uma consideração que nunca se proporcionou no tempo. «Nunca tive oportunidades para isso», diz com amargura. «O meu sonho era chegar à primeira divisão, felizmente, consegui-o, mas por outros caminhos. Mas não guardo rancores». Terminou contrato no seu segundo ano na equipa B e passou duas épocas no Oriental, onde ganhou a «alegria de jogar» e foi treinado por Fernando Chalana.
Esta época surgiu a oportunidade de representar o Felgueiras, da Liga de Honra, o que seria um passo em frente na carreira. «Mas passei momentos complicados», explica o lateral direito do Paços de Ferreira. A três dias de começar o campeonato, a notícia caiu que nem uma bomba: o clube duriense acabava com o futebol profissional: «Temi o pior, pensei no desemprego ou em ter de regressar à 2ª Divisão B. Depois o mister Luís Miguel [ex-jogador do Paços de Ferreira] falou comigo e com o José Mota e vim para cá. De repente, o meu sonho realizou-se». Jogar no escalão principal. E como jogador como se define? «Gosto de atacar, mas não descuido as tarefas defensivas. Sou rápido e aguerrido». Mangualde, um nome para fixar.