Cúmulo do erro no campeonato português. Uma competição absorvida pelo medianismo da austeridade, medidas de contenção extremas, míngua de artistas e criatividade. O F.C. Porto guarda Hulk como oásis num deserto de ideias e liderança. A mesma liderança que pode passar para o Sp. Braga nesta segunda-feira.

O P. Ferreira, à escala, reserva para Melgarejo o mesmo papel que Hulk tem neste Porto. Artistas a solo, argumentos curtos para justificar algo mais que um gosto pelo risco. A equipa de Vítor Pereira desperdiçou nova oportunidade. Mereceu? Pouco importa. Colocou-se invariavelmente a jeito.

Restam poucas dúvidas. Se a qualidade de jogo for argumento, o Sp. Braga é o candidato mais forte. Terá agora uma oportunidade para o provar. O Benfica empata, o Porto empata (1-1), ninguém foge à mediania nesta Liga.

Amanhã seria tarde de mais

Hulk achou que amanhã seria tarde de mais. Contrariou o próprio destino do campeão português, justificando a braçadeira. No início da etapa complementar, colocou o F.C. Porto em vantagem. Foi curto.

A defensiva do Paços perdera em velocidade dois lances do género, na etapa inicial. Nesta altura, valeu o desacerto de Janko, um estranho caso de deslumbramento à boca da baliza, a inquietante tranquilidade de quem vive de golos mas aparenta passear bem sem eles.

No regresso dos balneários, Hulk tocou na mesma tecla e beneficiou de contributo involuntário. Com Janko ao segundo poste, já pouco disposto a falhar outra do género, foi Ricardo a meter a perna à bola, traíndo Cássio.

Melgarejo ficara pelo caminho. Nem o veloz extremo do Paços, protagonista de um par de lances polémicos na etapa inicial, conseguiu acompanhar Hulk. Cruzamento rasteiro com o pé direito, trajetória mudada por Ricardo ao primeiro poste, nulo desfeito.

Desperdício de Janko e Lucho

O P. Ferreira, o mesmo que se agigantara antes de permitir reviravoltas de Sporting e Benfica, não marcou primeiro, nem esteve realmente perto de o fazer, embora reserve queixas para decisões da equipa de arbitragem.

Importa reconhecer a existência de dois fora-de-jogos mal tirados a Melgarejo na primeira metade, assim como uma pretensa simulação de Luisinho, na área, que não convenceu. Penalty talvez, simulação nunca, até porque estava lá o braço de Sapunaru. E o que dizer do choque entre Cássio a Hulk, na segunda metade, também na área? Muito duvidoso.

O F.C. Porto, alheio a tudo isto, conseguiu ter mais bola e criar desequilíbrios nos pés de Hulk. Por duas vezes, ele criou e Janko desperdiçou. Lucho González, aí numa bela triangulação com Hulk e James, ensaiou um chapéu onde o remate forte era uma exigência e permitiu a defesa de Cássio.

Os dragões regressaram aos balneários com satisfação moderada. Saíram por cima, é certo, mas tinham unidades em claro sub-rendimento. Para além do reforço austríaco, Defour continua a ser um enorme ponto de interrogação. Que vale este belga? Vítor Pereira não gostou e lançou Fernando ao intervalo. Moutinho estava finalmente livre.

Fatalismo e Melgarejo

Coincidência. Num minuto apenas, o líder desfez o nulo. Depois, deslumbrou-se.

A tendência fatalista acentuava-se entre os dragões. Cássio negava um, dois, três a Hulk. Sempre ele. Helton, do outro lado, pouco ou nada fazia. Ainda assim, a diferença mínima acarretava riscos. Melgarejo demonstrou isso mesmo. O Benfica, proprietário do seu passe, rejubilou.

No primeiro remate enquadrado da etapa complementar, o paraguaio restabeleceu a igualdade. Canto de Josué, meia equipa portista a dormir, Rolando atrasado e Melga de cabeça para o fundo da baliza.

A liderança ficou em risco. O F.C. Porto facilitou. Uma parte a perder tempo, outra com esperança depositada em Hulk, nada mais. A reta final permitiu ver um campeão limitado em ideias e soluções. Alternativas a roçar a mediania, sem inspiração. Um ponto de vantagem sobre o Benfica, caminho aberto para o Sp. Braga.