Não é à toa que o Anorthosis é por muitos conhecido como «o clube dos refugiados». De facto, o epíteto faz algum sentido. Em 1974, aquando da invasão das tropas turcas à parte oriental da ilha de Chipre, mais de 200 mil pessoas foram forçadas a deixar tudo para trás e partir para a zona ocidental.
Famagusta foi uma das zonas ocupadas e nem o Estádio Gymnastic Club Evagoras escapou à ira invasora. Desde então o Anorthosis Famagusta adoptou Larnaca como a sua cidade. Mas apenas «por empréstimo», como insistem em dizer os seus dirigentes. A intenção, agora e sempre, é voltar a Famagusta e reocupar o abandonado Evagoras.
Tudo depende da vontade política das partes turca e grega, que prosseguem o diálogo tendo em vista a unificação de toda a ilha. Quando isso suceder, o Anorthosis poderá voltar a casa e deixar de ouvir as provocações habituais. «Vocês não passam de um bando de turcos», gritou a claque do Tottenham na última edição da Taça UEFA.
No Chipre de calções e havaianas
História à parte, o presente do Anorthosis é uma realidade com algum luxo e qualidade. Como confessa Tiquinho ao Maisfutebol, «não falta nada». «Cada vez há mais portugueses no Chipre e isso não me surpreende. A liga está cada vez melhor, os salários são bons, o ambiente relaxado e o clima fantástico. Ando quase sempre de calções e havaianas», atira em pleno Mediterrâneo o extremo.
Paulo Costa chegou em 2007 atraído por «uma proposta alucinante e irrecusável». Vai disputar pela segunda vez na carreira a Liga dos Campeões ¿ jogou em 2001/02 com a camisola do F.C. Porto ¿, mas aos 28 anos acredita que o futuro pode passar por outros países. «Em Janeiro tive várias propostas para sair, mas o Anorthosis pediu muito dinheiro.»
O avançado tem um percurso muito interessante. Formado nas escolas do Sporting, conta com passagens pela Reggina e Veneza (Itália), F.C. Porto, Gil Vicente, Bordéus (França), Aris Salónica (Grécia) e Aris Limassol (Chipre).
«Houve momentos-chave em que as coisas não aconteceram. No Bordéus, por exemplo, tive seis meses fantásticos, mas perdi o lugar com a mudança de técnico. Ainda voltei lá, recomecei bem e depois surgiu o Denílson. Regressei ao banco», recorda o internacional B.
Um empurrão ao árbitro e o adeus ao Benfica
Tiquinho tem apenas 23 anos e algumas histórias interessantes para contar. Uma terá comprometido o seu futuro no Benfica, clube onde se formou. «Estava na equipa B e fomos disputar um torneio à Suíça. Nessa altura não ouvia ninguém, era muito imaturo e fiz asneira», relata o jogador.
«O árbitro de um jogo mostrou-me um vermelho e reagi mal. Empurrei-o e apanhei um castigo pesado. Estive cinco meses sem jogar e saí do Benfica.» Depois passou discretamente pelo Alavés e pelo Marítimo. Tudo isto antes de chegar ao AEL Limassol, onde fez a melhor época da sua carreira. Saltou para o Anorthosis e terá agora a oportunidade de disputar a Liga dos Campeões.
Paulo Costa e Tiquinho têm o desejo assumido de voltar a Portugal e ao nosso campeonato. O primeiro, assume mesmo ter o sonho de jogar «pelo menos uma vez» pela Selecção Nacional A. «Para a minha posição há muitas opções, mas continuo a ser um jogador atrevido, corajoso, sem medo de arriscar. Talvez a participação na Champions me ajude.»