A reação de um grupo de adeptos benfiquistas no final do recente acerto de calendário na Madeira, frente ao União - descontados os excessos, que parece nem terem sido assim tão desconcertantes - deixa claro que a maior parte daqueles que sofrem pelo emblema da Luz entendem que são necessárias mudanças para garantir a sustentabilidade futura, mas têm dificuldades em aceitar que a mola real dos encarnados seja tão irregular.

Para sermos mais precisos, a leitura que pode fazer-se – ou, indo mais longe, deve ser feita -, é a de que a nação benfiquista fica feliz com negócios de muitos milhões, só possíveis pela força da marca Benfica. Sejam eles relacionados com os direitos televisivos ou a venda do nome do estádio, aceita que todos esses milhões sejam para resolver os problemas, imensos, relacionados com o passivo e que desse volume considerável de dinheiro não se invista nada na contratação de jogadores. Rejubila com a chegada à equipa principal de jovens que são garantia de futuro, casos de Renato Sanches e Nélson Semedo, mais dois ou três que parecem estar na calha. Aqui e além até fecha os olhos a algumas tiradas despropositadas do seu treinador, mas há uma coisa em que é implacável, como todas as massas apoiantes dos grandes clubes: quer vitórias.

Na Madeira, frente a uma equipa do União aparentemente condenada, por parecer ter um treinador mais do que a prazo, pela posição que ocupa na tabela, pelos 0-6 de Paços de Ferreira, mas muito especialmente por outra goleada, a sofrida em casa frente ao FC Porto (0-4), os benfiquistas, legitimamente, estavam convencidos de o Benfica somaria os três pontos. Não foi possível e houve um minicataclismo, que só não teve, ao que contou a imprensa, maior dimensão pela intervenção de Rui Costa… em defesa do treinador.

E esse, diga-se o que se disser, é o grande problema do Benfica. Não tenho dúvidas quanto à honestidade de Rui Vitória, acho-o um bom treinador, estudioso, meticuloso ao que parece, com resultados conseguidos num patamar mais abaixo, mas como o discurso não galvaniza, ou se se quiser algumas das suas posições têm surgido fora de tempo, a nação benfiquista não as aceita muito menos acredita e coloca tudo em dúvida. E nem mesmo o apuramento para a fase seguinte da Liga dos Campeões – jogo com o Atlético de Madrid que devia ter sido abordado de forma mais convincente – deixa quem apoia mais tranquilo.

Um bom exemplo sobre opiniões que não se confirmam diz respeito, por exemplo, ao «ataque avassalador» do Benfica. Sim, estamos em presença do melhor ataque da Liga, mas não se compreendem tantas intermitências. Depois de um certo embandeirar em arco pelo que se passou em Setúbal, frente a uma equipa, a do União, que só se preocupou em defender, deve afirmar-se: atacar atacou o Benfica, mas muito mal. E não foi por Gaitán não ter jogado, pois também ficara de fora na visita ao Sado.

Neste contexto, se por um lado Luís Filipe Vieira tudo faz para que o ano de transição na Luz seja sustentado com a entrada de capital suficiente que garanta o futuro do maior emblema português, por outro necessitava que da parte do ativo que tudo movimenta, a equipa de futebol principal, chegassem os resultados capazes de garantir muito mais milhões. Ora, a sete pontos de distância do topo da tabela, mesmo reconhecendo-se que ainda falta correr muita água sob as pontes, parece complicado que seja desta que as águias chegam ao tri.

PS1: Julen Lopetegui não tem contribuído para que o presente do FC Porto seja de acordo com o investimento e a qualidade do plantel. E as coisas só não estão piores, porque foi o que se viu na recente deslocação ao terreno do Nacional – mas quanto a isso o melhor era os treinadores dos grandes não dizerem nada… - e logo numa altura em que o treinador vai pôr as contas em dia com um ano e meio de atraso. Ainda se os portistas estivessem a ser avassaladores…

PS2: Artur Soares Dias e, vá lá, Jorge Sousa (maus jogos todos têm, mas o universo de ambos é muito mais positivo do que negativo) vão acompanhar o Europeu pela televisão. Mereciam estar no grande certame? Para mim está a pagar o justo pelo pecador, porque em boa verdade a arbitragem portuguesa não merece estar representada em nenhuma grande competição. A acontecer era mais ou menos como dar um brinde a quem só preocupa em que partir vidraças…