Ronaldo.

Em sete letras assim somadas cabe muito mais do que a definição de um grande talento. Cabe uma lição de vida.

Nesta altura, leitor, acho que vale a pena ouvir cada palavra da música que Marcelo D2 dedicou a Ronaldo.

Volto já.



Agora sim.

Como muitos que nasceram na viragem da década de setenta para oitenta, no seio da geração parva, também eu vivi a época em que o futebol era quase um vício ao ritmo dos golos de Ronaldo.

E agradeço por isso.

Ronaldo chegou a ser uma bênção. Uma mistura explosiva de velocidade, técnica e sentido de golo. Um craque como terá havido poucos.

Aos 16 anos já era fenómeno.

Mas não era só isso: mais do que um craque, Ronaldo foi um craque de carne e osso. De entre todos os génios que o futebol já conheceu, ele foi certamente o mais humano.

Do primeiro ao último dia da carreira, olhava-se para ele e não se via uma estrela: via-se uma criança com um dom.

Pegava na bola, partia para cima, fintava um e outro e outro, mais um, fazia golo, abria o sorriso e acelerava-nos o coração. Sofria uma falta, e outra, e mais outra, caía e levantava-se escondido por detrás de um olhar assustado.

Ronaldo era todo ele sinceridade à flor da pele.

Era um talento embrulhado em singeleza. Um talento que se lesionava, que se enganava, que se iludia. Que tinha convulsões antes da final do Mundial, que engordava, que às vezes deixava o relvado para ir à casa de banho e que confundia o género humano.

Provavelmente se fosse um pouco menos humano teria sido o maior jogador de todos os tempos. Provavelmente sim: bastava atrair menos os muitos azares da vida.

Mas aí já não seria Ronaldo.

E este Ronaldo não nasceu para ser o melhor de sempre. Nasceu para ser apenas ele: Fenómeno. Uma criança que não perdeu a esperança de ver o jogo mudar.

Obrigado por isso.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui regularmente